Variações no tratamento dado pela TV à diversidade sexual



Publicado originalmente no site: http://kogut.oglobo.globo.com/noticias-da-tv

Terça-feira, 30 de julho de 2013, 09h03

Patrícia Kogut



Com o perdão do termo pisado e repisado, a “diversidade sexual” salta aos olhos de qualquer espectador de novelas e séries. Diversidade essa que não fica restrita aos personagens que ilustram o tema — gays, transexuais, travestis —, mas também alcança a maneira como ele é tratado.

Veja o caso de “Orange is the new black”, da Netflix. A trama reconta a história real de uma patricinha que vai parar na cadeia. Talvez por causa do excesso de caretas de Taylor Schilling, a protagonista é uma das personagens menos atraentes da série. Ela fica comendo poeira, por exemplo, diante de Laverne Cox. A atriz, negra e transexual, interpreta Sophia Burset, ex-bombeiro que contou com a solidariedade da esposa para fazer sua travessia em direção ao outro sexo. Ela foi pega com cartões de crédito falsificados. Na cadeia, atua como cabeleireira. Sua melhor amiga intramuros é uma freira. Sophia se desespera quando a direção da prisão decide diminuir a dose de hormônios de que precisa para manter as características femininas. O drama comove e a personagem conquista o público. Essa versão moderna do mito grego de Tirésias concretizado pela medicina moderna faz pensar.

Entrevistada pela “TV Guide”, Cox disse, sábia: “Quando você fica conhecendo uma pessoa como ela é de verdade, os estereótipos e ideias pré-concebidas se dissolvem. Mostrar todas as facetas de Sophia, como pai, como marido devotado e boa amiga, ajudará a aliviar o peso dos estigmas normalmente depositados nos transexuais”.

Aqui no Brasil, o Félix de “Amor à vida” é o primeiro personagem gay a estrelar uma novela das 21h. Como se trata de um vilão, de quebra ainda representa um drible naquelas concessões fáceis ao politicamente correto. Em outras palavras, não é um sujeito bonzinho, um herói inventado com o propósito de defender a bandeira gay. Mateus Solano anda exagerando nos trejeitos ultimamente. Ainda assim, seu talento é inegável. E Félix está, desde já, entre os tipos que fizeram História na nossa TV.

Surpreendentemente, talvez o passo para mais longe dos preconceitos tenha sido dado na terceira temporada de “The killing”. Como a série é policial, possivelmente esse passo foi obra do inconsciente dos roteiristas. No programa, Bex Taylor-Klaus interpreta Bullet, uma garota de rua que à primeira vista parece um menino. Perdidamente apaixonada por uma colega de desgraça, ela tem bom coração, é uma brava sobrevivente que colabora com a investigação da polícia. Uma personagem positiva.

A uma certa altura, Bullet troca impressões com o detetive Holder (Joel Kinnaman), um machão sem muito requinte, sobre a forma certa de se tratar uma mulher na cama. Tudo com naturalidade. É como disse o leitor Cláudio Botelho, por e-mail: “O tratamento nada preconceituoso que os autores dão ao tema é incrível. Nenhum personagem jamais parou pra perguntar, estranhar, comentar ou ao menos citar que tem uma adolescente homossexual ali. Ela é o que é, é parte da vida e a vida segue”.

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