Viva promove reflexão sobre a TV e ocupa espaço que estava vago



Publicado originalmente no site: http://kogut.oglobo.globo.com/noticias-da-tv/critica

Quinta-feira, 29 de agosto de 2013, 09h00

Patrícia Kogut



Série de 23 episódios, “Damas da TV” (coprodução da Seu Filme, direção de Bernardo Portugal) estreou ontem no Viva com depoimento de Glória Menezes. O formato lembra o do quadro do “Fantástico” “O que vi da vida”, mas tem maior duração. O entrevistado fala para a câmera, num cenário simples, elegante e bem iluminado. As únicas interferências, de imagens de arquivo, são eventuais e enriquecedoras. Glória passou em revista os 53 anos de carreira e 78 de uma vida completa — ela também fala do casamento com Tarcísio Meira, dos netos e bisnetos.

A atriz não foi escolhida acidentalmente entre tantas outras grandes que participaram do projeto — Fernanda Montenegro, Regina Duarte, Marieta Severo, Marília Pêra, Glória Pires, Joana Fomm, enfim, muitas — para abrir a série. Ela estrelou a primeira novela diária gravada, “2-5499 ocupado”, na TV Excelsior. Na história, fazia par com Tarcísio. “Foi um divisor de águas para o ator brasileiro”, disse, referindo-se à imensa popularidade que angariou depois desse trabalho.

“Damas da TV” também vai flechar alguns desavisados que imaginam que tudo está sendo inventado agora na televisão. Glória citou “Almas de pedra”, novela de 1966 dirigida por Walter Avancini, em que fez um papel masculino. Para isso, cortou os cabelos no estúdio. Depois de listar inúmeros trabalhos, chegou a “Sangue e areia”, de 1967, com Daniel Filho, para engatar uma frase bem emblemática: “Faz tanto tempo e estamos aqui até hoje”.

Um projeto como esse diz muito do próprio Viva. O canal começou como um imenso — e saboroso — arquivo da TV Globo. Reapresentadas ali, em outro tempo e outro contexto, novelas e minisséries foram também, de alguma forma, ressignificadas. Novas gerações tiveram a chance de acompanhar “Que rei sou eu?”, ou “Rainha da sucata”, só para citar duas.

Fora do universo das telenovelas, o “Globo de ouro” ganhou uma nova vida e colecionou milhares de fãs ativos comentaristas no Twitter. Saudosistas, cegos de emoção, louvaram até as ombreiras. Veteranos se divertiram com as apresentações de famosos que estavam em início de carreira e também com aquelas de quem depois sumiu. Mais importante: a reprise teve presença.

Além disso tudo, o canal não se limitou a reapresentar. Se tornou um agente de reflexão com a série “Reviva especial”, ao debater a própria televisão com especialistas da melhor qualidade — uma sacada de sua diretora, Letícia Muhana.

Outro passo foi a produção de quatro programas do “Sai de baixo”. A missão foi cumprida objetivamente: o mesmo elenco lotou o antigo teatro, num cenário quase idêntico e reviveu as gargalhadas dos anos 90 com inabalado entusiasmo. Mas o projeto teve um mérito simbólico que não pode deixar de ser mencionado: fez pensar que o que passou pode sempre ser revalidado. Em se tratando do Viva, a frase se multiplica em significados.

Projetos como “Damas da TV” são a garantia de que a televisão, tão poderosa difusora de cultura no Brasil, está bem lembrada.

Comentários