Nos EUA, consultoria começa a mensurar audiência de TV pelos posts no Twitter



Publicado originalmente no site: http://www1.folha.uol.com.br/tec

Terça-feira, 08 de outubro de 2013, 16h34

Brian Stelter




Só 98.600 pessoas escreveram mensagens no Twitter sobre a estreia de duas horas da nova temporada de "Grey's Anatomy" no mês passado. É uma fração pequena dos 9,3 milhões que, de acordo com a consultoria Nielsen, assistiram à série naquela noite.

Mas os tuítes publicados (225 mil no total) foram vistos por milhões de usuários do microblog, alguns dos quais devem ter acionado seus gravadores de vídeo ou notebooks para ver o episódio mais tarde.

A Nielsen está agora medindo o que chama de "audiência única" para posts sobre televisão no Twitter, providenciando um panorama mais completo do fenômeno conhecido como TV social.

Na segunda-feira (7), a firma apresentou o Twitter TV Ratings, um produto anunciado no ano passado que afirma medir toda a atividade e o alcance de conversas na rede sobre seriados. Ele ainda precisa ser adotado por executivos da área e ganhar uma base de clientes mais ampla.

"Sentimos que esse será um momento para a indústria construir credibilidade", diz Andrew Somosi, o executivo-chefe do SocialGuide, uma firma de estatísticas que a Nielsen adquiriu em novembro de 2012, em partes para criar o novo produto.

Medições de posts sobre séries de TV ("Mal posso esperar pelo início de 'The Walking Dead'") são apenas a ponta do iceberg do Twitter, afirma Somosi: "O iceberg completo é o escopo de pessoas que veem esses tuítes". Por exemplo, 225 mil postagens sobre o episódio de "Grey's Anatomy", de 26 de setembro, foram vistas por 2,8 milhões de usuários distintos, de acordo com os algoritmos da Nielsen.

É impossível dizer quantos deles assistiram à série como resultado dos posts, mas estudos mostram que a atividade no Twitter às vezes estimula o telespectador.

O Twitter fez da colaboração com a indústria televisiva uma prioridade para impressionar investidores; o prospecto de sua IPO (oferta pública de ações, na sigla em inglês), publicado na quinta-feira, mencionava televisão 42 vezes.

Executivos da Nielsen dizem esperar que redes de TV começarão a promover o desempenho de sua "audiência do Twitter" da mesma forma que fazem com os números da transmissão. Mas não está claro como tantos anunciantes e emissoras estão pagando pelo serviço.

A Nielsen se recusou a dizer quais empresas já são suas clientes, e representantes de apenas duas companhias de mídia --Discovery Communications, a dona do Discovery Channel, e a gigante da compra de anúncios Universal McCann-- foram citadas num comunicado à imprensa sobre o produto.

"Esse é só o começo; os dados não estavam disponíveis até agora", disse Sean Casey, que fundou o SocialGuide e é agora o vice-presidente sênior de produtos.

Durante a semana de 23 de setembro, por exemplo, o fim de "Breaking Bad", da AMC, ficou na primeira colocação do ranking de audiência do Twitter, medido pela Nielsen. Foram 1,2 milhões de posts, que alcançaram 9,3 milhões de usuários.

Dois episódios de "The Voice", da NBC, também ficaram entre os 10 melhores programas da lista, alcançando 3,8 milhões e 2,7 milhões de pessoas. Interessantemente, um dos quatro novos episódios de "Jimmy Kimmel Live" daquela semana entrou no top 10. Foi aquele transmitido em 24 de setembro, durante uma briga no Twitter entre Kimmel e o rapper Kanye West.

Casey diz que seus colegas e ele possuem uma variedade de técnicas para capturar posts sobre programas de TV e excluir aqueles que meramente usam palavras similares. (Com o drama "Scandal", da ABC, por exemplo, mensagens que mencionam "a scandal" [um escândalo] são descartadas.)

No futuro, a Nielsen planeja distinguir tuítes de estrelas da televisão sobre seus próprios seriados (que não são medidos atualmente) de publicações de telespectadores. Dessa forma, emissoras (e agências de talentos, presumivelmente) podem dizer o quão influentes são os posts de um ator ou atriz.

Algumas redes de televisão podem questionar a metodologia da Nielsen, especialmente porque um post relacionado à TV é considerado visualizado quando ele é carregado na web ou aparece na tela de um dispositivo móvel, mesmo que brevemente.

BOCA A BOCA

No geral, o ceticismo é abundante no que concerne o nível de representatividade de uma conversa no Twitter.

"As pessoas não percebem que a maior parte das conversas sobre seriados de TV ainda acontece off-line", diz Ed Keller, o executivo-chefe do Keller Fay Group, uma firma de pesquisa de mercado especializada no "boca a boca" e que fornece dados para emissoras como a CBS.

Os estudos da companhia indicam que 80% das conversas sobre séries de TV acontecem pessoalmente, enquanto 10% ocorrem ao telefone, com mais dos 10% restantes sendo realizadas na internet.

"As conversas que acontecem no mundo real normalmente podem ser bem diferentes das que acontecem nas redes sociais", diz Keller.

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