Bem preservado, acervo da TV pode trazer novas receitas, diz pesquisador



Publicado originalmente no site: http://www.telaviva.com.br

Quarta-feira, 11 de dezembro de 2013, 18h03

Fernando Lauterjung




"Se for bem preservado, o acervo da TV pode ser fonte de receita no futuro não tão distante, ou mesmo daqui há 30 anos", diz Julio Cesar Fernandes, pesquisador que defendeu a dissertação "A memória televisiva como produto cultural: um estudo de caso das telenovelas no Canal Viva", no curso de pós-graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo. O trabalho se propôs a estudar a memória televisiva como parte da memória social e coletiva através da análise da memória recuperada e construída pelo Canal Viva, que exibe, essencialmente, conteúdo do acervo da TV Globo. Segundo Fernandes, que é coordenador de operações do jornalismo da TV Globo, o produto de acervo ganha novas características quando é reexibido, inclusive comerciais, por atingir, muitas vezes, um público distinto daquele impactado na primeira veiculação do conteúdo.

Nostalgia

A pesquisa foi dividida em duas etapas. A primeira consistiu em uma pesquisa bibliográfica, em que são articulados conceitos de cultura, memória, identidade e imaginário. Já a segunda etapa foi o estudo de caso propriamente dito dividido em três etapas: pesquisa documental; entrevistas guiadas, realizadas com profissionais da equipe do Canal Viva; e um grupo focal, com telespectadores do Canal Viva, que relataram suas experiências a respeito de hábitos de televisão, telenovelas e o Canal Viva.

Segundo o pesquisador, as entrevistas com o grupo focal mostraram que a nostalgia é o que guia a maior parte da audiência do canal de acervo, embora a maior parte desta audiência seja formada por pessoas que não eram nascidas ou eram crianças/adolescentes quando o conteúdo foi exibido originalmente. "Os que eram crianças têm uma memória afetiva das novelas. Os que ainda não haviam nascido, ainda assim, se sentem inseridos na realidade retratada naquele conteúdo. É uma nostalgia do imaginário coletivo", explica.

A pesquisa traz uma reflexão sobre a memória televisiva e a importância para a sociedade da sua preservação. "Ao ver as questões tratadas em 'Roque Santeiro', como a corrupção, por exemplo, o telespectador percebe como algumas questões evoluíram e outras permaneceram iguais", diz Fernandes.

"O Brasil é um país carente de preservação de sua memória em geral, inclusive a televisiva. Há iniciativas privadas para que programas de televisão sejam arquivados e devidamente preservados, entretanto pouco eficazes em comparação ao volume de material que é produzido diariamente por todas as emissoras em território nacional", completa o pesquisador.

Comentários

  1. A questão da preservação da memória de audiovisual brasileira, que faz parte da memória cultural brasileira, não é novidade para quem estuda cinema. Todos que se informam sobre o assunto sabem a dificuldade estrutural e falta de vontade política no Brasil para resolver problemas ligados a preservação. A questão se apresenta também para a televisão, pois, mesmo que parte do conteúdo televisivo seja arquivado, sua relação com o volume de material produzido pela televisão é ínfimo.
    Creio que essa questão tem dois pontos muito claros: É necessário que um povo guarde seu passado, para poder pensar seu futuro. Isso é básico. Mesmo que você seja um cético quanto a possibilidade de se olhar para a própria para resolver os problemas atuais, devido a diferenças incontornáveis de um contexto para o outro, ainda assim o passado de um povo pode ajudá-lo a pensar para onde quer ir, mesmo que não necessariamente chegue lá.
    Outro ponto é a questão econômica. É amadorismo comercial uma empresa achar que guardar seu próprio material para utilização futura não irá render lucros. A Globo está percebendo os benefícios disso agora com o Canal Viva, e fica a esperança que outros canais também o façam, e que esse retorno comercial acenda uma luz no governo para que este vire seus olhos de maneira que deveria para o armazenamento da nossa própria produção cultural.

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