Namoro entre TV e literatura


Autor da série “True Detective”, que termina amanhã na HBO, defende qualidade da televisão em relação ao cinema


Domingo, 09 de março de 2013, 03h00

O Tempo



Os autores literários estão cada vez mais apaixonados pela televisão. E vice-versa. O sucesso de “True Detective”, cujo primeiro ano acaba amanhã à meia-noite, na HBO, mostrou como esse namoro pode ficar ainda mais sério. “A TV está melhor que o cinema há pelo menos dez anos”, disse à reportagem Nic Pizzolatto, criador da série. O autor conseguiu algo inédito: escreveu sozinho os oito episódios da série e ganhou crédito de produtor sem ter um filme no currículo.

“Não tenho o menor interesse em me matar para escrever um roteiro e entregar para um produtor estragar tudo”, diz Pizzolatto. Ele tem dois livros publicados: “Between Here and the Yellow Sea” e “Galveston”, romance premiado pela Academia Francesa de Letras. Nenhum saiu no Brasil.

A aposta da HBO deu certo. O primeiro episódio de “True Detective”, com 2,3 milhões de espectadores, foi a melhor estreia do canal em três anos nos EUA e ganhou os críticos e fãs apaixonados por referências literárias.

Usando o detetive filósofo Rust Cohle (Matthew McConaughey), Pizzolatto cita Nietzsche (“Toda Verdade é Sinuosa”), joga pistas que desorientam o espectador e usa a mitologia de um livro de 1895, “O Símbolo Amarelo e Outros Contos”, de Robert W. Chambers (1865-1933).

As histórias fantásticas de Chambers devem ser lançadas neste mês no Brasil pela editora Arte & Letra. “Queria injetar uma sensibilidade de romance. Falam que a TV possui narrativa literária, mas não é bem assim. Livros têm final e a maioria das séries só começa a pensar no fim quando anunciam o cancelamento”, diz Pizzolatto.

A história sobre dois detetives que investigam a morte de uma garota em meio a elementos de rituais satânicos terá um ponto final nesta noite. O segundo ano da série trará outro caso, sem personagens da primeira temporada. Velho Oeste Jonathan Tropper, autor dos best-sellers “Como Falar Com um Viúvo” e “Sete Dias Sem Fim”, foi para a TV seguindo regras tradicionais em “Banshee”, série exibida pelo Maxprime.

Ele trabalha com uma equipe de escritores, sem começo, meio e fim predefinidos. “Na TV, o escritor controla tudo. Já no cinema, o diretor e o produtor nos querem ver longe”, diz o roteirista da série sobre um criminoso que assume a identidade de um policial morto.

“A TV agora é o Velho Oeste, território fértil que cria conteúdo o tempo todo. É a corrida do ouro dos autores”. Já Stephen King, que se aventurou na TV com a série “Kingdom Hospital”, assina agora o roteiro do primeiro episódio da nova temporada de “Under The Dome” (exibida pela TNT), baseada no seu livro “Sob a Redoma”. Ele se diz encantado com o momento atual da televisão.

“Ela desafia escritores a contar histórias dramáticas de modo romanceado, algo que não estava acostumada a fazer”, diz King. “Em ‘True Detective’, por exemplo, você não sabe se os detetives sairão vivos. É assim que tem de ser. A TV virou uma mídia literária”.

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