Globo abre armário, e personagens gays invadem novelas



Publicado originalmente no site: http://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/opiniao

Quinta-feira, 15 de maio de 2014, 12h14

Raphael Scire




Reflexo dos acontecimentos da sociedade, a telenovela brasileira há tempos expõe a pauta da diversidade sexual em seus enredos, mas de uns tempos para cá, ela tornou-se mais frequente. É interessante notar como, nas três novelas atuais do horário nobre da Globo, há a presença de personagens que geram uma discussão pertinente para a sociedade atual: a do combate ao preconceito.

Em Meu Pedacinho de Chão, Gina (Paula Barbosa) não é homossexual, mas a sua figura masculinizada e um tanto bruta gera comentários e olhares tortos por parte dos outros habitantes da pequena Vila de Santa Fé. Vítima de um preconceito velado, a pobre é chamada de “mulher homem”, um tratamento que denota a discriminação dos demais.

Gina é a chave da transgressão feminista. Foge do trabalho caseiro ao lado da mãe e prefere ir para a roça com o pai. Aparentemente, não tem vaidade, mas no fundo apenas não sabe se portar de maneira mais delicada. A aproximação com a professora Juliana (Bruna Linzmeyer) é sua chance de transformação. Até lá, ela caminha na corda bamba do preconceito, tratado de maneira leve, como pede o horário de exibição da novela, mas suficiente para plantar a semente da tolerância.

Já na novela seguinte, Geração Brasil, Luis Miranda surge como a travesti Dorothy. Nordestina e negra, a personagem carrega assim outras duas características que, invariável e infelizmente, ajudam a calibrar a carga preconceituosa de boa parcela dos brasileiros. Mas Dorothy enriqueceu, construiu uma vida nos Estados Unidos, assemelha-se à primeira dama norte americana Michelle Obama e tem presença midiática, o que a deixa fora do alvo da hostilidade sexual.

Além disso, há a capa do humor. Personagens travestis e transexuais não são novidades nessa seara. Para exemplificar, podemos citar os casos de Ramona (Claudia Raia), em As Filhas da Mãe (2001), Sarita (Floriano Peixoto), em Explode Coração (1995) e Ana Girafa (Luis Salém), em Aquele Beijo (2011). Todos com enorme aceitação popular.

Por fim, Em Família, com sua trama morna-quase-esfriando, traz ao público o casal “Clarina”, como ficou conhecido o relacionamento de Clara (Giovanna Antonelli) e Marina (Tainá Müller) nas redes sociais. Diferentemente do casal gay da trama anterior, Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso), cujo beijo final teve importância histórica para a televisão, a aceitação da relação das duas não foi a mesma e isso se deve a um simples erro de roteiro.

Clara é uma mulher que tinha uma vida pacata, mas estabelecida, com filho e marido. A chegada de Marina abala seu íntimo e ela pensa em abandonar tudo para viver essa paixão. Só que Cadu (Reynaldo Gianechinni) adoece e fica entre a vida e a morte. Abandonar o marido quando ele mais precisa dela seria dar um tiro no pé da personagem e parte do público torceu o nariz para o romance lésbico.

O mesmo teria acontecido se Marina fosse um homem. O que se questiona não é a relação que Clara está para viver, mas a que ela pode deixar para trás. Só que novela é obra aberta e muita coisa pode acontecer ainda. Manoel Carlos é experiente e vai saber resolver essa questão.

Exibida na última terça (13), a cena em que Clara revela a Chica (Natália do Vale) que sente amor tanto por Marina quanto por Cadu foi muito bem dialogada, sem histrionismos, gritarias nem excessos de melodrama. A naturalidade de Chica, chocada com a revelação da filha, merece destaque _Natália do Vale estava excelente. O ponto alto foi a mãe ter dito que, sim, sente preconceito ao ver Clara próxima de Marina. Ficou claro ali que o melhor a se fazer para combater esse sentimento é o diálogo.

Mais importante do que cota de personagens gays na teledramaturgia é levantar a discussão nas novelas. Ainda que lentamente, as produções dão largos passos nessa direção. Quem ganha é o telespectador.

Comentários

  1. essa emissora tem um jornalismo exemplar como jornal nacional, mais essas novela de gays nada ver meu amigo.
    Deus criou só duas espécie de ser humano (homem mulher) não quatro espécie como a globo incentiva, se já não bastasse o que já tem pelas ruas do pais isso, e falta de respeito com as famílias deveriam todos desligar as tevês nesse horário como protesto...

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