Seminário I : Reality Television e a Competição Pela Sobrevivência



Universidade Federal Fluminense
Cinema e Auiovisual
Tv e Vídeo
Professor: Felipe Muanis
Grupo: Amanda Kadobayashi, Leonardo Khuriyeh e Victória Bastos

Reality Television e a Competição Pela Sobrevivência


“The genre now encompasses unscripted dramas, makeover sagas, celebrity exposés, lifestyle-change shows, dating shows, talent extravaganzas and just about any kind of competition you can think of (and a few that you probably can't).” - How Stuff Works






Os realities shows são peças de entretenimento que surgiram ainda na era do rádio e que foram transportados para a televisão no fim da década de 1940 através de programas como The Amateur Hour, a primeira competição musical televisionada, e This is Your Life, que apresentava semanalmente a história de vida de uma pessoa. Ambos os shows citados possuem algumas características em comum que foram reproduzidas e reapropriadas das mais diversas maneiras para a afirmação e a renovação do gênero televisivo conhecido como Reality que perdura até os dias de hoje.

Das características do gênero, é válido citar o fato de que esses programas não necessitam de roteiristas ou atores, uma vez que toda a ação que ocorre no programa é proveniente de fatos reais, que acontecem com pessoas reais - não personagens- ao longo de um período de tempo prédefinido. Dessa forma, pode-se dizer que os programas de realidade, apesar de terem um mote inicial delimitado, são suscetíveis à mudanças súbitas devido a imprevisibilidade das ações daqueles que estão em frente às câmeras. Essa configuração de trabalho coloca grande responsabilidade nas mãos dos produtores e editores, pois são eles os responsáveis pela elaboração do programa à partir do processo de pré-produção/produção e edição, somente.

Partindo desse pressuposto, o gênero se ramifica em milhares e isso pode ser justificado pela versatilidade do formato, pelo seu baixo custo de produção e apelo comercial.

A estrutura dos realities shows de competição é um paradigma do formato que, com alterações mínimas, compõe todos os programas do gênero, fundamentado pelo objetivo principal de ganhar um prêmio. Esses programas são geralmente exibidos primeiramente no horário nobre e depois, reprisados ao longo da semana em horários diversos e a faixa etária mais representativa é dos adultos (18-49 anos), apesar do formato fazer sucesso entre os mais jovens e também entre os mais idosos.

Fazem parte dos realities shows de competição alguns realities shows de sobrevivência, que atrelam à competição um fator extremo: o risco de vida. Nesses casos, os personagens devem se dividir em grupos e participar de provas que garantem a permanência de alguns integrantes no jogo em detrimento da eliminação de um outro participante. A estrutura básica dos realities competitivos de sobrevivência é a mesma dos outros realities de competição.

O episódio -salvo o primeiro- começa com a recapitulação do que aconteceu anteriormente. Passado esse primeiro bloco, os competidores participam de uma prova que garante vantagem ao vencedor (comida melhor, imunidade, utensílios, etc…), o grupo perdedor, por consequência, deve lidar com as adversidades da derrota na prova que, muitas vezes, pode comprometer o desempenho da equipe na prova eliminatória do episódio. Entre essas situações, os personagens comentam as provas enquanto cenas de convivência entre os participantes são exibidas. Ao final de cada episódio, um participante é eliminado do jogo. É comum que as temporadas dos realities possuam episódios não eliminatórios e, além disso, existe em vários formatos a possibilidade de repescagem- quando participantes eliminados voltam ao jogo para competir novamente pelo prêmio.
A estrutura de temporada desse gênero pode ser dividida, em linhas gerais, em duas etapas. A primeira ocorre até meados da temporada e os participantes estão divididos em dois grupos que combatem semanalmente. Quando o número de participantes já está bastante reduzido, os grupos são desfeitos. É nesse momento que a primeira etapa é concluída e a disputa passa por reconfigurações.

A partir desse momento, não existem mais grupos combatentes e cada jogador luta por si. É desse ponto em diante que os competidores que restaram passam por provas mais difíceis e que levam à final, geralmente disputada por três participantes.
Outra vertente dos realities de sobrevivência são os programas onde não existe competição. Nesse caso, geralmente, o(s) apresentador(es) do programa são submetidos a situações de risco e o principal objetivo do jogo é em primeira e única instância, sobreviver.
Nesse caso, a dinâmica da temporada se dá através da variedade de situações enfrentadas pelo apresentador, uma vez que não há eliminação. Outro diferencial é o fato de que os episódios desse formato podem ser assistidos de maneira aleatória, uma vez que não há ligação narrativa entre eles. A estrutura do episódio, então, é marcada pela apresentação da situação adversa, seguida pelo relato das dificuldades ao longo do trajeto que culminam no sucesso e na superação do apresentador ao final do episódio.

Apesar de já existirem desde a década de 70, o formato só foi consagrado na televisão mundial pelo formato de Survivor, considerado o pai dos reality shows. O programa foi criado em 1992 no Reino Unido, mas só foi produzido e televisionado pela primeira vez em 1997, na Suécia, com o nome de Expedition Robinson. A versão estadunidense responsável pela disseminação, aí sim com o nome Survivor, só foi ao ar em 2000 na CBS, e hoje, conta com 26 temporadas. E já foi reproduzido em mais de 30 países, como Austrália, China, Itália, Etiópia, África do Sul e muitos outros.

No formato, um grupo de 12 a 20 participantes são colocados em algum lugar inóspito e, divididos em dois grupos, devem lutar pela sobrevivência seguindo a estrutura de episódio supracitada. Em cada episódio, a equipe que perde a prova eliminatória deve votar para selecionar qual de seus integrantes irá deixar o programa.

No final de cada temporada, somente um competidor é o vencedor.
Esse esquema de competição entre equipes que gera apenas um vencedor é somente uma das variedades possíveis do formato, e é seguida em outros programas, como o recente vencedor do MIPFormats International Pitch da Warner Brothers, o Zombie Boot Camp. Na edição de 2014, a produtora australiana The Feds ganhou 25 mil euros para produzir o reality em que duas equipes competem para sobreviver a um apocalipse zumbi. Em cada episódio, as equipes são submetidas a provas que os preparam para a luta contra os zumbis. O time perdedor seleciona 3 de seus integrantes para enfrentar os zumbis diretamente, uma luta na qual um deles será eliminado. No final da temporada, os participantes que restarem enfrentarão 200 zumbis, dentre os quais estarão os integrantes já eliminados. Dessa grande luta, sairá apenas um vencedor, que ganhará os prêmios.

O Zombie Boot Camp mostra a relativização da dita realidade dentro do gênero. Afinal, os zumbis e todas as situações são falsas, totalmente criados e controlados pela produção do programa. A realidade reside na reação das pessoas ao enfrentar essas provas. No caso de Survivor, além das provas criadas, os participantes tem que lutar para conseguir comida, fogo, abrigo, etc em situações “reais”. Obviamente são necessárias as aspas, já que a produção está sempre presente, e em qualquer situação que represente algum risco real, haverá intervenção.
Ainda dentro do esquema competitivo, há aqueles programas em que não apenas um vencedor, mas sim uma equipe vencedora, que luta em conjunto pelos prêmios que irão dividir. Nessa segunda variação de formato, um ótimo exemplo é Shipwrecekd: The Island, exibido pelo Channel 4, no Reino Unido. O programa segue uma estrutura muito parecida com a de Survivor, com participantes divididos em grupos numa ilha lutando para sobreviver. A grande diferença é que nesse caso, em cada episódio, chega uma pessoa nova, que, depois de passar um tempo com cada equipe, é agregado a uma delas. No final da temporada, a maior equipe vence o programa. A série conta com 11 temporadas, sendo a última exibida em 2011.

Outro exemplo é a estadunidense Capture, exibida pelo The CW. O reality é inspirado na famosa trilogia Jogos Vorazes, e como na história, 12 duplas competem pela sobrevivência em uma arena. Em cada episódio, uma das duplas é aleatoriamente elegida a “caçadora”, e tem dois dias para caçar outras duplas. Se não caçar nenhuma, está automaticamente eliminada; caçando apenas uma, as duplas restantes votam se quem sai é a dupla caçadora ou a caçada; no caso de caçar duas (que é o objetivo proposto), a votação é entre as duas equipes caçadas. No final, uma das duplas é a vencedora.

Como exemplos dos realities de sobrevivência que não envolvem competição, um tipo bem conhecido é o representado por Man Vs Wild, do Discovery Channel (UK), e por Survivorman, produzido pelo canal Outdoor Life Network do Canadá. Nessas séries, um especialista em sobrevivência é colocado em alguma situação de limite e tem que sobreviver a ela com poucos recursos. Na primeira, Bear Grylls vai a destinos turísticos famosos em que há algum risco e tem que voltar à civilização. Na outra, Les Stroud viaja a lugares inóspitos para mostrar como sobreviver a eles. Nesse caso, sequer há equipe, o próprio protagonista registra as imagens.
Ainda nessa estrutura não competitiva com um especialista, existem outros tipos de sobrevivência. Em Pressure Cook, da MOJO HD (EUA), o renomado chef Ralph Pagano é enviado em cada episódio a um local diferente do mundo. Lá, em 72h, ele deve imergir na cultura, aprender sobre a culinária local e arranjar um emprego para ganhar dinheiro o suficiente para comprar sua passagem de volta.
Uma última variação consiste num formato não competitivo em que uma equipe inteira deve sobreviver. Ao contrário dos últimos citados, os participantes desse tipo de programa não são necessariamente especialistas em sobrevivência, mas os talentos individuais de cada um são o suficiente para que eles sobrevivam juntos. Nesse caso também não há prêmios, mas sim um caráter experimental e, de certo modo, até antropológico.

Em The Colony, do Discovery Channel dos Estados Unidos, um grupo é submetido a um ambiente pós-apocalíptico, no qual deve sobreviver em um cenário urbano sem recursos. Assim como em Zombie Boot Camp, as situações são inteiramente forjadas. O próprio show se diz um experimento social, em que o principal objetivo é entender as reações das pessoas. Para compor as situações foram contratados atores, que fazem grupos rivais e criam diferenças entre os membros da equipe protagonista. Já em Naked And Afraid, também do Discovery Channel norte-americano, em cada episódio um casal de desconhecidos é colocado em meio à selva ou a outro local inóspito para sobreviver. O diferencial é que a dupla está completamente nua, e cada um pode levar apenas um objeto de sua escolha para a empreitada.
Atualmente a produção de realities de sobrevivência é exclusivamente internacional, em território nacional os programas Naked and Afraid (Nu e Abandonado) e Man x Wild (À prova de tudo), são exibidos pelo canal de Tv por assinatura Discovery Channel Brasil. Programas nesse formato são grandes atrativos do canal, que exibe capítulos estreantes no horário nobre e reprises de temporadas e episódios ao longo do dia.
A televisão brasileira, no entanto, produziu o reality No Limite, primeiro reality show nacional de grandes proporções, realizado e veiculado pela emissora Rede Globo. A primeira edição de No Limite aconteceu em julho de 2000, nessa fomos apresentados a doze participantes que foram colocados em local inóspito do território brasileiro e divididos em duas equipes, tendo como objetivo ganhar os desafios físicos e mentais propostos, sobreviver às condições do lugar e permanecer no programa até o final. A estruturação do programa segue a fórmula genérica citada anteriormente, incitando a competição entre grupos e indivíduos.

Após três temporadas (Julho 2000, Janeiro e Dezembro de 2001), a emissora Rede Globo é processada pelo produtor do programa Survivor, Mark Burnett, por reproduzir o formato do reality americano sem deter os direitos de adaptação. Em 2002 a emissora perde o processo e determina o fim da produção de No Limite. Em 2009, após um hiato de oito anos, a Rede Globo adquire os direitos sobre adaptação do formato no prazo de um ano, com a regularização o reality volta a ser produzido e apesar do vínculo contratual com Survivor o nome No Limite é mantido.

A quarta edição do programa estreia com número maior de participantes e novos desafios, no entanto não é obtido o sucesso de audiência das temporadas anteriores, e sob a alegação de esgotamento do formato a emissora põe fim ao programa. O reality de sobrevivência perde espaço na produção nacional para outros tipos de variação do gênero como, reality de música, dança ou simples voyeurismo (ex: Big Brother Brasil). No ultimo, participantes mais comuns ao público são isolados em uma residência e submetidos a pequenos desafios de vantagem e imunidade, além do grande desafio da convivência, e sem divisão pré-organizada de grupos e sem questões de sobrevivência, pequenos incômodos ganham grandes proporções o que garante confusão e barulho na tela da Tv.


Bibliografia:

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