Seminário IV : Interprograma



Universidade Federal Fluminense
Cinema e Audiovisual
Tv e Vídeo
Professor: Felipe Muanis
Grupo: Lucas Couto, Isabel Salomon, Laura Casafranco e Antonio Teicher



INTERPROGRAMA


Com o surgimento da primeira emissora de televisão brasileira em 1950, a Tv Tupi, surgem os primeiros interprogramas no Brasil. A possibilidade única de transmissão ao vivo, devido a ausência do videotape, somada à existência de um único estúdio para gravação, gerou a necessidade da criação de quadros entre uma transmissão e outra. Inicialmente esses “interprogramas” eram de autopromoção do canal. Apresentando muitas vezes imagens paradas com a voz de um locutor, uma espécie de vinheta do canal ou anunciando a própria programação. Mais tarde, este formato começou a ter um conteúdo mais informativo para finalmente a publicidade tomar o maior tempo neste espaço, como vemos hoje em dia.

Esta análise focou-se nos interprogramas com conteúdo menos comercial, excetuando-se assim, a publicidade e os de autopromoção. Partindo desse pressuposto, pode-se definir este formato como programa de curta duração transmitido entre a programação fixa da grade do canal. A duração média desses programas é de 2 minutos, no entanto podemos ter interprogramas que vão de 15 segundos até 11 minutos. Dependendo de onde é transmitido, as produções abordam mais certos assuntos do que outros. Por exemplo, é mais comum ver um desenho animado infantil em um canal em que o público-alvo é a criança. Outra característica é que eles não se repetem em um mesmo intervalo, sendo inclusive mais comuns no intervalo entre o fim e o começo de dois programas fixos, pois o tempo é maior.

Como exemplos concretos podemos citar o desenho “Freaky Stories”, exibido no Cartoon Network, mais conhecido no Brasil por “Essa é uma história verdadeira: aconteceu com um amigo de um amigo meu”. O programa era relativamente longo, tendo episódios de 7 minutos, e por isso, o intervalo entre programas era maior do que o normal para exibí-lo. Outro que passava nesse mesmo canal fechado era um com um apresentador - caso raro entre os infantis - em que eram lidas as cartas que telespectadores enviavam à emissora. Esses interprogramas não estão mais no ar, hoje passam principalmente animações seriadas, mais curtas, com personagens já conhecidos pelo público. Esses interprogramas disputam o intervalo com comerciais de brinquedos e vinhetas do próprio canal.

Ainda dentro de canais privados, há aqueles com foco em exibição de filmes e séries. No Universal Channel, vale destacar o interprograma "What’s On", com duração entre 2 e 5 minutos, ele trata dos mais variados assuntos sobre cinema, como por exemplo, um episódio sobre publicidade no cinema (branded content). Normalmente exibido unitariamente entre os filmes do horário nobre, o "What’s On" também é utilizado pelo canal como um coringa, sendo agrupado em blocos de 4 ou 5 episódios seguidos e ocupando um espaço próprio na grade. No Warner Channel, o destaque fica para as produções próprias: "Inside the Movies" e "Inside the Series". Ambos funcionam como pequenos making off, mostrando bastidores e curiosidades sobre filmes e séries. O "Inside the Movies" costuma tratar de lançamentos feitos pela Warner para o cinema, como o recente e premiado "Gravidade" (Gravity, de Alfonso Cuáron, 2014), ou sobre filmes que serão exibidos no mesmo dia do programa. Já o "Inside the Series" aborda séries líderes de audiência no canal como "The Big Bang Theory".

Nas televisões públicas não há comerciais publicitários, o que acarreta em um grande número de produções voltadas aos intervalos. Isto não é exclusivo em canais públicos ou mesmo abertos, pois há canais privados e fechados que não veiculam propagandas, e seus intervalos transmitem interprogramas, principalmente de autopromoção, como é o caso do canal VH1. Porém, é nos canais públicos que há maior variação de conteúdo. Majoritariamente, são guiados por um viés educacional ou cultural.

Na TV Senado, por exemplo, passam programas que abordam fatos e personagens históricos brasileiros, detalhes sobre o funcionamento de órgãos federais e de leis e projetos aprovados. Como esse canal tem a sua grade focada na transmissão ao vivo do Senado, os programas de intervalos servem para preencher o vazio entre uma votação de lei e outra. Portanto, não há uma regra na ordem em que vão passar ou algo específico para o horário veiculado.

Em canais como a TV Brasil e a TV Futura, nos quais a grade é feita por programas educacionais e culturais, seus interprogramas não poderiam ser diferentes. O "Menas: o errado do certo e o certo do errado" (TV Futura) é um programa que dura cerca de 15 segundos e, por uma animação, mostra erros comuns da língua falada. Ele foi criado a partir de uma parceria entre o canal e o Museu de Língua Portuguesa de São Paulo. Outro programa parecido é o "Dicionário de Expressões Nordestinas", da TV Brasil, que mostra gírias e seus significados da região nordeste do Brasil. Nesse mesmo canal existe o "Coletânea", em que pessoas lêem poemas dos principais escritores do país.

No Discovery Kids, canal privado e fechado, o interprograma também tem teor educativo, utilizando-se dos intervalos dos programas da grade fixa para ensinar o alfabeto, números ou mensagens de moral às crianças telespectadoras. Outro aspecto interessante desse canal é que adota-se um mascote, o cachorro Doki, como apresentador desses interprogramas. Com a repetição desses pequenos programas durante a programação diária, o canal ganha uma identidade, uma assinatura, e Doki vira um mascote. Fica fácil de identificar quando começa um interprograma, e o público cria um vínculo especial com a marca do canal.

É importante destacar que já com seu próprio nome, "interprograma", esse formato é menosprezado, como se não fosse um programa de verdade, apenas algo entre algo maior. Só que é nos intervalos que se encontra a “verdadeira televisão”, pelo seu valor comercial e variedade em conteúdo. É necessário perceber que a grade de programação só existe pela presença do intervalo entre programas, e que é ele que a estrutura. Sendo assim, canais que produzem suas próprias vinhetas e interprogramas, sem terceirizarem esse setor, criam uma conexão com o público, diversificando a programação e reduzindo o zapear entre canais.

Bibliografia:

Comentários

  1. Os interprogramas são um alternativa barata e interessante para canais que não seguem o modelo padrão de comercialização. Falo especialmente da TV Pública e de canais pagos com essa proposta. Os interprogramas podem conectar a programação com uma qualidade bem maior de informações e, obviamente, eliminando a publicidade com inteligência.

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