Universidade Federal Fluminense
Cinema e Audiovisual
Tv e Vídeo
Professor: Felipe Muanis
Grupo: Andressa, Guilherme, Icaro e Matheus
O sucesso dos
Anti-Heróis na TV
Na atualidade,existe uma
verdadeira "epidemia" de anti-heróis ,presente nas programações das
principais emissoras de TV.Pode-se citar como exemplo,séries como Breaking bad,Homeland,e House,que foram verdadeiros fenômenos nos
EUA e em vários outros países,e que possuem como protagonistas,personagens que
transgridem o estereótipo de herói tradicional. Trata-se de um verdadeiro
fenômeno cultural.Aparentemente,a sociedade mudou,e os telespectadores já não conseguem acreditar em personagens
idealizados e totalmente íntegros.A figura do anti-herói esta presente ha muito
tempo na ficção.Na literatura,por exemplo,são inúmeros os exemplos : Dom
Quixote,Dom Casmurro,,o cinema também,sempre contou com a presença dessas
figuras,principalmente em filmes do gênero Western
e Noir.
A televisão,por ser um meio de
comunicação de massa,passou por um processo lento e gradual até chegar ao
cenário atua.Durante seus primeiros anos,durante a década de 1950 e até metade
dos anos 1960,as principais séries veiculadas pela TV,e de maior audiência,eram
aquelas que propagavam o conservadorismo americano da época, ressaltando a
sociedade patriarcal, valores femininos no ambiente doméstico e o patriotismo,
comum à sociedade americana. Em suma,predominava o american way of life, na
época em seu auge.
No decorrer dos anos seguintes,a
sociedade passou por importantes mudanças sociais,estimuladas pela Guerra do
Vietnã e os movimentos da contracultura. Esse cenário cultural,teve influencia
também,no conteúdo dos seriados. Algumas
regras da censura foram deixando de existir e, por isso, histórias relacionadas à homossexualidade, racismo,falhas
do sistema judiciário, diferenças entre gerações e classes sociais,
contracultura, divórcio, sexo, gravidez indesejada, guerra x paz, , entre
outros, eram exploradas mais abertamente.
A década de 1980 ,foi marcada por
uma nova linguagem em alguns seriados policiais, que se consolidou nos anos
1990. O perfil do protagonista começa a se distanciar do caráter irretocável
para alguém que adquire malícias e, em alguns casos, desonestidade. Pode-se
citar como exemplo a serie Seinfeld
(1989 – 1998), que possuía uma fórmula pioneira, com roteiros repletos de ritmo
e humor acido,alem da transgressão e questionamento do moralismo e hipocrisia ,
da sociedade.Outro exemplo semelhante é a serie
Os Simpsons (1989), que questiona
a sociedade norte-americana,e seu modelo de vida.
Na década de 1990 as mudanças
sofridas pelas séries adquirem nitidez, passam a definir uma nova forma de construção
de personagens, roteiro e produção e Os seriados policiais adotaram a crueza da
linguagem, que foi evoluindo nos anos 2000 para o que temos hoje, quando nos
são apresentados mórbidos detalhes de um crime ou investigação legista e
personagens com caráter dúbio. Essas características passaram a fazer parte
também de séries protagonizadas por médicos, como Plantão Médico (E.R. – 1994).
Lançada em 1999,devendo muito a filmes como O Poderoso Chefão e Os Bons
Companheiros, A Família Soprano
foi um marco na televisão, ao ponto que deu início a uma nova era das séries
dramáticas. Pela primeira vez foi dado reconhecimento cinematográfico a um
produto televisionado, graças ao seu roteiro bem conduzido, ótima direção e
atuações.A série pode ser considerada a pioneira,em ser bem sucedida explorando
a figura de um protagonista anti-herói.
Similarmente aos filmes de Martin Scorsese, Sopranos apresenta uma abordagem mais humana e realista à figura do
mafioso. Tendo em vista a crise americana e declínio do american way of life, o
protagonista, Tony Soprano é um homem comum, na crise da meia idade. A série
retrata seu relacionamento com ambas ambas as famílias – a de sangue e a do
crime. Contudo, ao invés da alta sofisticação encontrada em obras como O Poderoso Chefão, vemos personagens
mais mundanos, repletos de problemas psicológicos, exibindo diálogos comuns e
até citando filmes de época. Desta forma é desconstruído o maniqueísmo máfia x
polícia.
A narrativa de Sopranos apresenta diversas subtramas que se
completam em cada capítulo e que, aos poucos, montam o quebra-cabeça geral da
temporada como um todo. É como se cada episódio composse um pequeno filme.
Nesses vemos, diversas vezes, o foco oscilando entre a gama de personagens da
série, ora se aproximando, ora distanciando do protagonista, Tony. A abordagem
realista acaba gerando um clímax mais discreto, ao contrário de série como Game of Thrones, que nos mostra
episódios como Blackwater e Rains of Castamere no ápice da
temporada.
É importante ,para melhor compreensão
,esclarecer as diferenças entre o herói e o anti-herói. O herói é alguém
extraordinário, decisivo, que possui um código moral de conduta convencional
guiado pela virtude, por amor por uma pessoa ou pela humanidade de maneira
geral. Ele é motivado a superar falhas e medos, e muitas vezes, a se sacrificar
para o bem dos outros. Exemplo clássico do herói/heroína em uma obra seriada
são os personagens Príncipe Encantado e Branca de Neve de Once Upon a Time. A
todo instante, eles provam a sua devoção em ajudar o próximo, e constantemente,
estão lutando contra obstáculos tudo em nome do amor.
Os anti-heróis, por sua vez, não
são guiados por um modelo tradicional de conduta. Suas ações são motivadas por
interesses pessoais, e se por ventura, acaba ajudando o bem comum é uma
consequência, já que muitas vezes não é algo intencionado, que se almeja. Eles
são pessimistas em relação ao sistema e a sociedade, e buscam fazer justiça com
as próprias mãos. Um modelo disso é Emily Thorne de Revenge. A série é
basicamente sua missão em condenar as pessoas que incriminaram seu pai,
inocentemente, por um atentado terrorista. E, ela faz isso, muitas vezes, sem
pensar nas consequências dos seus atos.
Em Homeland, o sargento do
exército dos Estados Unidos, Nicholas Brody, é dado inicialmente como um herói
da nação após voltar da guerra do Iraque onde ficou mantido como prisioneiro e
tido como desaparecido em seu país. Suas intenções, no entanto, são outras. É
um personagem cheio de falhas, conflitos e motivações. Em determinado momento
da série ele deixa claro de que não é um herói, ou uma boa pessoa. Ele é
impulsionado por um desejo de vingança. Um personagem quebradiço, e que
desperta o interesse do público por ser passível de redenção. Mesmo que isso
nunca aconteça, faz com que a audiência acredite na possibilidade.
Talvez um dos maiores exemplos
atuais para elucidar a imagem do anti-herói seja Breaking Bad. A série, ao
longo, de cinco temporadas soube trabalhar fortemente a construção de um
arquétipo anti-herói. A audiência solidariza, logo de início, com as motivações
de Walter White, um professor de química que descobre ter um câncer terminal e
que decide produzir metanfetamina para deixar um dinheiro para sua família.
Mesmo que, inicialmente, ele não se apoie em uma motivação egoísta, seu ego
transforma-o em um. Chega a um momento que suas ações são basicamente guiadas
pelo seu interesse próprio, mesmo que ele acredite (ou finge acreditar) que
está ajudando seus familiares. Transforma-se no alter ego criado por ele, um
chefe da máfia, temido por todos.
A crítica de televisão
estadunidense, Maureen Ryan, tem uma colocação muito propícia a muitos
anti-heróis: “Poucos seriados fazem você odiar o personagem principal, não
importa o que ele tenha feito. Mas os seriados de primeira linha nunca deixam
você esquecer que seus protagonistas não são alguém que você deseja emular e,
de tempos em tempos, fazem você se perguntar se realmente simpatiza com eles”.
É exatamente isso o que os telespectadores sentem ao longo da jornada de Walter
White. Um momento, a audiência se pergunta se aquele personagem é realmente
digno de solidariedade e simpatia.
Um bom exemplo
sobre como o tema começou a se tornar frequente após The Sopranos, é The Wire,
criada por David Simon em 2002. A série foi inspirada nos dois livros que Simon
escreveu: Homicide, sobre uma divisão
de homicídios de Baltimore; e The Corner,
sobre uma esquina que era comandada pelo tráfico. Ambos os livros viraram
séries, o primeiro originou Homicídio, uma série policial que durou sete
temporadas na NBC, logo após o fim da série, rendeu um filme, e o segundo livro
gerou uma minissérie de mesmo nome escrita pelo próprio Simon. Essa aventura do
jornalista no meio televisivo fez com que a HBO desse aval a criação de The Wire, que apesar de não ter ganhado
muitos prêmios, é elogiada pela realidade e narrativa diferenciada por não ter
um protagonista e apresentar vários lados sobre um mesmo tema, possuindo um
roteiro muito complexo.
Mad Men, que foi criada por um dos
roteiristas de Sopranos, devido ao
sucesso nas premiações, acabou tornando-se referência pela busca a perfeição em
retratar os EUA dos anos 60. A primeira investida do canal AMC em ficções abriu
um espaço para mais um canal que produzisse séries com qualidade. A imagem de
Don Draper acabou virando exemplo de um anti-herói americano, um cara que é
egoísta, leva o dinheiro acima de tudo, bebe e fuma muito, é mulherengo e, em
meio a essa vida quase perfeita que ele mostra levar para os outros, na verdade
ele é filho de uma prostituta do interior do país que assumiu uma outra
identidade de um colega de guerra que foi morto, assim seu passado sempre volta
para atormenta-lo, para mostrar que ele não quem realmente diz que é.
Porém os
anti-heróis não ficam restritos ao drama. Jenji Kohan é a criadora de Weeds e Orange is the New Black, séries que fogem do padrão por serem
comédias e terem mulheres como protagonistas. Weeds foi a primeira a iniciar a onda de anti-heroínas, que
basicamente tomaram conta da grade do canal Showtime durante muito tempo. Na
série, a protagonista se vê obrigada a vender maconha para sustentar a família
após a morte do marido. Até então nunca se imaginaria uma série tratando de
temas assim na televisão. Em seguida o canal passou a desenvolver outras séries
com anti-heroínas, como uma série com uma mãe de família com múltiplas
personalidades, uma enfermeira drogada, uma mulher com câncer que decide não
fazer tratamento, uma prostituta de luxo que leva uma vida dupla. Todas essas
séries misturam drama com comedia. Todo o caminho criado acaba abrindo espaço
para que o Netflix investisse em Orange
is the New Black, onde a protagonista se entrega a polícia, e tem que se
virar nas mais diversas situações na cadeia que põe em prova sua moral.
O Netflix
inclusive se tornou especialista em séries com anti-heróis. Das quatro
produções originais que deram certo, todas possuem esse tipo de personagem. House of Cards, por exemplo, já mostra
que o protagonista não é o que as pessoas estão acostumadas a ver, já na
primeira cena do primeiro episódio, ele mata um cachorro que tá agonizando de
dor após ter sido atropelado, isso já tira qualquer traço de esperar uma
bondade dele, que ao longo da série vai querer destruir com a vida de cada um
para conseguir ser Secretário de Estado. Todo o investimento e o novo modo de
distribuição do Netflix, foram suficientes para iniciar uma discussão sobre
qual seria o futuro da tv.
Anti-heróis no Brasil
No Brasil não
tem ainda um grande de número de produções do tipo na tv, a maioria está
fechada a novelas. Uma que acompanhou este fenômeno pós-sopranos, foi Avenida
Brasil, que trazia uma protagonista vingativa. Em um país onde as pessoas tão
acostumadas com histórias que seguem um padrão clássico, a novela acabou
conquistando por mostrar personagens que mudavam durante o desenrolar dos
capítulos, outro fator que favoreceu o sucesso também foi por a nova classe c
como protagonista.
Na estrutura
de seriados, um exemplo importante foi Filhos do Carnaval, que possuiu duas
temporadas, uma em 2006 e outra em 2009. A história tratava sobre um bicheiro
dono de uma escola de samba que acaba tendo seu filho que era seu braço direito
cometendo suicido, então os outros três filhos disputam por esse lugar. O
protagonista da série era feito pelo Jece Valadão, que acabou morrendo pouco
tempo após a primeira temporada ir ao ar, o que dificultou o desenvolvimento da
série, fazendo com a segunda temporada não recebesse os mesmos elogios da
primeira. O mercado brasileiro tá se reinventando agora, após a aprovação da
lei da tv paga, onde os canais precisam cumprir cota de tela, e isso está
fazendo com que novas produções comecem a serem feitas, e com o investimento
maior dos canais pagos em séries nacionais, é uma questão de tempo até o número
de séries com anti-heróis aumentar.
A mudança no paradigma de herói alavanca o espaço protagonista no cinema desde a segunda metade do século passado. Na TV, as séries absorveram isso com maestria na década de 1980. As reverberações são notáveis até hoje, cada vez mais fortes. O herói agora pode dividir o espaço de complexidade psicológica com seus vilões. Muito bom o exemplo da série Sopranos.
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