‘Magnífica 70’ estreia em 2015 com retrato da Boca do Lixo


Filmada no Rio, produção é a primeira série brasileira de época da HBO

Publicado originalmente no site: http://oglobo.globo.com/cultura/revista-da-tv

Sábado, 23 de agosto de 2014, 09h40

Liv Brandão




O cenário é a Boca do Lixo, no coração de São Paulo, onde a pornochanchada emergiu. A época é a de maior repressão da ditadura: os anos 1970. A história é mais ou menos aquela velha conhecida, a do algoz que se apaixona pela vítima. Mas nem tudo é como parece. Em “Magnífica 70”, primeira série brasileira de época da HBO, que está sendo filmada no Rio e tem lançamento previsto para 2015, o tal algoz é um funcionário da censura vivido por Marcos Winter, que acaba obcecado pela estrela das produções que avalia — Dora, vivida por Simone Spoladore — e vira diretor dos filmes que costumava reprovar.

Com essa premissa, poderia até ser uma comédia. E a ideia inicial era mesmo essa. Baseado num argumento de Toni Marques, o projeto reuniu o diretor geral Cláudio Torres e os roteiristas Renato Fagundes e Leandro Assis, sob supervisão de Luiz Noronha, da Conspiração Filmes, que, juntos, usando o modelo popularizado pela TV americana, adaptaram a história para um drama. Apesar de ter forte ligação com a Rua do Triumpho, onde se concentrou a Boca do Lixo, e o prédio da Censura Federal, em São Paulo, a maior parte das gravações acontece em um complexo montado nas dependências do colégio Sagrado Coração de Jesus, no Alto da Boa Vista, hoje desativado.

— Esse censor é um cara duplamente reprimido. Ele é reprimido pela vida e reprime como trabalho — resume Torres.

RELAÇÃO ENTRE PRODUTORAS E CENSURA

Diretora dos 13 episódios, Carolina Jabor diz que a história ganhou muito por ser um misto de drama, suspense e romance, além de ter mantido o humor.

— Essa premissa nos dá uma liberdade de transitar pelos dois mundos, o da pornochanchada e o da ditadura, e o protagonista apresenta um conflito interior muito grande. Aliás, todos os personagens têm segundas intenções — conta a diretora, cujo longa “Boa sorte” levou o prêmio de público recentemente no Paulínia Film Festival.

A dualidade estará explícita não só nos personagens, mas também na relação das produtoras da época com a censura.

— Esse talvez tenha sido o período mais rico da indústria do cinema no Brasil. E havia um contraste muito interessante, os filmes eram incentivados por leis da ditadura, mas ao mesmo tempo estavam sujeitos à censura dos mesmos ditadores. Os criadores estavam entre a cruz e a caldeirinha para conseguir atrair o público — conta Renato Fagundes, durante as gravações de um episódio.

Na trama, o personagem de Winter, Vicente, é casado com Isabel (Maria Luísa Mendonça), dona de casa que se transformará ao longo da temporada (“ela começa reprimida nos anos 1960 e termina como uma mulher livre dos 1970”, explica a atriz). Vicente assume uma nova faceta após se encantar com a atriz de um filme que ele censurou. Tomado pela culpa, ele vê sua vida ser transformada quando cruza com as pessoas que fazem a Boca do Lixo — cujo núcleo se completa com os atores Adriano Garib e Stepan Nercessian, produtor e dono da Magnífica 70, onde Vicente acaba empregado.

— Vicente foi criado para ser um acomodado, virar um despachante que cuida do cartório do pai, até que ele acaba preso como comunista por engano. O pai dele, militar, pede um favor ao grande general (vivido por Paulo César Pereio). Vicente então se casa com a filha dele e vai trabalhar na censura. Aí a história se desenrola, ele entra para a produtora, e eles fazem filme atrás de filme, filme para botar em cartaz, filme para ganhar dinheiro, filme para justificar a vida...

Simone faz coro:


— Todos esses personagens encontram um sentido para a vida por meio do cinema. Cada um chega à produtora por uma razão torta, mas eles viram uma trupe, e isso me emociona. É uma declaração de amor à sétima arte — explica a atriz, que interpreta Dora (nome artístico de Vera, mais uma personagem com vida dupla), inspirada por Helena Ignez, musa e mulher de Rogério Sganzerla, não só pelo visual, mas pelas cenas de nudez que protagoniza. — Helena é uma mulher forte, à frente do seu tempo. E ela lidava com a nudez de forma natural, sem pudores.

O tributo ao cinema se manifesta também nos filmes da Magnífica 70, que estão sendo rodados e farão parte do programa.

— A série ainda acompanha as fases de um filme: o episódio dois é sobre roteiro, o três é sobre o começo da produção, o quarto é sobre o elenco, o quinto, o sexto e o sétimo são a filmagem, o oitavo é sobre montagem, o nono é sobre a finalização, até que chega a estreia. E não para aí, porque tem a distribuição de lucros e o próximo filme — conclui Torres.

Comentários

  1. Sem dúvida, este 2015 vem com muito boas estreias, outra série que é visto como bem Magnificent 70 é um brasilenña na produção de filmes em http://www.hbomax.tv/magnifica-70/ pode saber mais sobre este projeto, o veradd é que ele parece promissor.

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