Série da Globo recebe denúncias de racismo


Sexo e as Negas ainda não estreou, mas enfrenta processo judicial que investiga discriminação na atração


Sexta-feira, 12 de setembro de 2014, 10h22

Meio & Mensagem


Antes mesmo de estrear na Globo, a nova série Sexo e as Negas enfrenta problemas judiciais. A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), ligada ao governo federal, abriu um processo para investigar denúncias de discriminação e racismo a respeito da atração.

A ouvidoria da pasta disse que “vê com estranheza e preocupação qualquer tipo de manifestação que reproduza estereótipos racistas, machistas, que se alicerce na sexualidade das mulheres negras, ou venha a reforçar ideias de inferioridade dessas mulheres”. A nota oficial, assinada pelo titular do setor, Carlos Alberto de Souza e Silva Junior, analisa as denúncias recebidas e complementa que “as produções televisivas deveriam refletir a diversidade da população brasileira em todos os seus segmentos, contribuindo para a consolidação de uma sociedade justa, plural e igualitária”.

A série, escrita por Miguel Falabella, se inspira no seriado americano Sex and the City, mas transfere as personagens para o subúrbio carioca. Prevista para estrear na terça-feira, 16, a atração conta o cotidiano de quatro moradoras do bairro do Cordovil: Zulma (Karin Hils), Tilde (Corina Sabbas), Soraia (Maria Bia) e Lia (Lilian Valeska).

Falabella rebateu, nas redes sociais, as críticas recebidas, dizendo que um dos motivos que apoiam a série foi justamente a simpatia por colegas negros na profissão:

“As oportunidades são reduzidas, não trabalham sempre e, sem exercício, não há aprendizado, como sabemos. Pensei que aquela ideia, surgida numa feijoada, na Cidade Alta de Cordovil, pudesse ser um programa que refletisse um pouco a dura vida daquelas pessoas, além de empregar e trazer para o protagonismo mais atores negros. Basicamente, foi essa a ideia e nem achei que iriam aceitar o programa. Qual é o problema, afinal? É o sexo? São as negas? As negas, volto a explicar, é uma questão de prosódia. Os bahianos arrastam a língua e dizem meu nego, os cariocas arrastam a língua e devoram os S. Se é o sexo, por que as americanas brancas têm direito ao sexo e as negras não? Que caretice é essa? O problema é porque elas são de comunidade? Alguém pode imaginar Spike Lee dirigindo seus filmes fora do seu universo? Que bobagem é essa? Pois é justamente sobre isso que a série quer falar! Sobre guetos, sobre cotas, sobre mitos! Destrinchá-los na medida do possível! Os mitos e lendas que nos são enfiados goela abaixo a vida toda. Da negra fogosa, do negro de pau grande, das mazelas que os anos de colônia extrativista e escravocrata deixaram crescer entre nós.”

A Seppir pediu mais informações à Rede Globo, que por sua vez afirmou, em nota enviada à Folha de S.Paulo, que ainda não foi notificada oficialmente. A emissora ainda afirmou que o programa é uma “ficção que tem como principal objetivo entreter e divertir o telespectador”, e respeita tanto as livres manifestações como a diversidade. A secretaria encaminhou o caso ao Ministério Público Federal, que confirmou o recebimento e diz já estar em análise.

Comentários