Novela angolana ‘Windeck’ estreia nesta segunda na TV Brasil


Primeira produção africana a ser exibida no Brasil, o folhetim foi indicado ao Emmy internacional em 2013

Publicado originalmente no site: http://oglobo.globo.com/cultura/revista-da-tv

Domingo, 09 de novembro de 2014, 06h00

Thaís Britto




No ano passado, “Lado a lado”, de João Ximenes Braga e Cláudia Lage, levou o Emmy internacional de melhor novela, vencendo concorrentes de outros quatro países: um desses adversários era “Windeck”, folhetim angolano que chega às telas brasileiras nesta segunda, dia 10, às 23h, na TV Brasil. A exibição é uma parceria da emissora com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir/PR) e marca a primeira vez que uma novela africana vai ao ar no Brasil.

— O conceito de “Windeck” é de mostrar como se vive a atualidade luandense, porque, tal como outras grandes cidades no mundo que estão em fase de crescimento, há muita história a contar. Igualmente, a estética angolana é muita particular, já que nós temos influências de várias partes do mundo, desde as culturas africanas, como a da Europa, Ásia e das Américas, que absorvemos pela TV e cinema. Acredito que isso cria uma forma de estar e de ver o mundo muito particular — explica Coréon Dú, autor e produtor-executivo da novela.

A trama se define como uma história que mostra “até onde as pessoas são capazes de ir para obter a riqueza”. Isso tudo nos bastidores de uma revista, a Divo. O ator Ery Costa interpreta Xavier Ross, o dono da tal revista onde se desenrola o enredo. Ele conta que a teledramaturgia é parte do cotidiano do país, e que o mercado das novelas só faz crescer.

— Somos consumidores assíduos das novelas brasileiras desde sempre, e das mexicanas também. Mas as que têm maior impacto são as brasileiras, com as quais nos identificamos não só pela língua, mas por toda a dramaturgia e as questões que vêm debater. Quanto a mim, as novelas que mais me marcaram são muito antigas. Era bastante menino quando vi pela primeira vez “O Bem-Amado” e me impactou.

RELAÇÃO BRASIL-ANGOLA MAIS PRÓXIMA

Dú explica que não só o Brasil, mas outros mercados influenciaram a produção do país.

— A teledramaturgia angolana, no geral, sofreu influência de três escolas: da cubana, da brasileira e da portuguesa. Como o know how técnico durante muito tempo era escasso em Angola, muitos dos profissionais em todo ramo audiovisual aqui, seja na televisão ou nas produtoras de referência, tiveram um grande intercâmbio com profissionais destes três mercados ao longo do tempo.

Mas claro que a relação com nosso país é forte e, ele espera, passe a ser mais recíproca a partir de agora:

— O Brasil continua a ser a grande referência da dramaturgia feita em língua portuguesa, e em Angola acho que sempre sentimos uma espécie de “orgulho por associação” pelo fato de haver o elo comum da língua. Culturalmente, há um certo calor humano que existe na cultura brasileira com a qual muitos angolanos se identificam porque também faz parte da nossa cultura. Em Angola muita gente conhece a cultura popular e a atualidade brasileira seja na música, televisão e mesmo na moda muito bem. Espero que o povo brasileiro comece também a conhecer um pouco mais sobre produtos culturais angolanos, porque apesar de estarmos separados pelo oceano temos muitas características em comum.

Comentários

  1. Esse raciocínio começa com uma pergunta. O que conhecemos da produção audiovisual angolana? Ou que filme recente de grande repercussão oriundo desse país vimos? Essas perguntas de difíceis respostas, nos remetem a reverberação de uma situação clara e com a qual lidamos todos os dias também aqui no Brasil ao ligar uma televisão: a imposição maciça da programas de televisão oriundos de outros países.
    Em parte a lei 12.485 vem combater essa disparidade, mas pensando na entrada da produção angolana em um canal público, nos deparamos pelo menos duas indagações importantes:

    • primeiro o pequeno espaço que a televisão dedica a programas de que tem como enfoque a cultura e a população afro-descente e, nesse ponto mesmo tendo certeza que não são muitos os com saudade do canal TV da Gente (criado pelo Netinho, numa parceria entre empresários brasileiros e angolanos) é sintomático perceber como a proposta de criação desse canal pensava em atingir uma demanda, desfavorecida nas grades televisivas;
    • Segundo a reverberação do gênero novela na produção angolana, aliás, com uma sinopse muito similar a dezenas de novelas brasileiras “até onde as pessoas são capazes de ir para obter a riqueza”.

    Desse último raciocínio nasce outra interrogação. Seriamos dessa vez nos os “vilões” que entopem a programação local com novelas globais? E assim, não damos espaço para o crescimento da produção audiovisual de Angola. Já que o próprio produtor da novela Windeck é bem enfático ao falar do dialogo e do alto consumo das novelas brasileiras e mexicanas no país.

    De qualquer forma não é possível desvencilhar a escassez da produção africana as inúmeras crises financeiras. E nesse âmbito, o cinema de Nollywood parece ter encontrado uma modo de sobrevivência, por meio da produção em massa de baixo custo distribuída juntamente com os filmes pirateados de Hollywood.

    Em determinado momento da reportagem o produtor angolano fala numa maior reciprocidade entre as produções brasileiras e angolanas. No momento nada me parece mais utópico. Só, talvez, uma maior reciprocidade entre as produções audiovisuais brasileiras e norte americanas.

    Fabrício Basilio

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