Por que os personagens de ´Downton Abbey´ não se tocam?



Publicado originalmente no site: www.oglobo.com.br

Quarta-feira, 12 de novembro de 2014, 00h00

O Globo





A falta de abraços, beijos e contato físico em geral entre os personagens de "Downton Abbey", mesmo em momentos dramáticos, é parte da estratégia da série. Em entrevista ao programa "The Radio 2 Arts Show", da BBC, o consultor de etiqueta e História Alastair Bruce, que trabalha para "Downton Abbey", disse que as pessoas não se tocavam tanto na época (início do século XX), quando não havia antibióticos em larga escala e a transmissão de doenças era muito comum.

"Não quero abraços nem contato físico; eles simplesmente não faziam isso naquela época", disse o consultor. ?Nós nos abraçamos, beijamos. Santo Deus, conhecemos alguém agora e já o beijamos em minutos. E isso é porque temos antibióticos. Mas não acho que as pessoas se dão conta do quão distante a vida atual é do que ela era na Inglaterra nesse período".

As exceções são casamentos, romances ou a morte de Lady Sybil, em que a família foi vista cuidando dela. Bruce disse que era essencial para a história estar alinhada com o protocolo correto do período, sobretudo por causa de seus espectadores exigentes
Garrafa plástica aparece em foto promocional de ´Downton Abbey´ - Reprodução

Basta lembrar a confusão gerada pela série de fotos de divulgação da quinta temporada, em que uma garrafa plástica de água aparece esquecida sobre uma lareira; a foto correu o mundo rapidamente e rendeu uma série de críticas e piadas.

Bruce lembrou que enfatizava frequentemente a necessidade de distância física na tela, apesar da tendência moderna de as pessoas se cumprimentarem com um beijo.

O consultor, que também trabalhou em filmes como "A jovem rainha Vitória" (2009) e "O discurso do Rei" (2010), contou que seu papel era garantir que o diretor conseguisse revelar a história nos moldes do protocolo do período: "É importante ter os detalhes corretos, e a pressão aumenta sim. As pessoas procuram por erros".

Comentários

  1. A tendencia de retratar o passado, seja num filme ou numa série de época, sempre traz a tona um dilema. Retratar os aspectos estéticos e comportamentais por um viés histórico, respeitando com preciosismo o modo de vida da época (ainda que seja estranho atualmente) ou fazer uma releitura do período com elementos da atualidade implícitos.
    Filmes como 300 e séries como The Tudors seguiram o segundo caminho e sofrem críticas por serem muito ˜mainstream˜, pasteurizarem referencias históricas e estéticas, e por se aproximarem de uma concepção artística demasiadamente comercial.
    Já filmes como Barry Lyndon de Stanley Kubrik e séries como Downton Abbey buscam representar o passado da forma mais fiel possível e as vezes são criticados por se aprofundarem demais em representar a época, fugindo da realidade mais palpável do tele-espectador, o que faz com que muitos se sintam num museu e fiquem entediados.
    É claro que não se pode agradar a gregos e troianos, mas a presença ou não de profissionais como o citado na reportagem parece decisivo na hora de se estabelecer as prioridades artísticas e mercadológicas de uma obra.

    ResponderExcluir

Postar um comentário