Seminário IX: Série Ficcional Procedural



Universidade Federal Fluminense
Instituto de Artes e Comunicação Social
Cinema e Audiovisual
Professor: Felipe Muanis
Alunos: Mahane Sollon, Victor Hugo Faria, Camille Frambach




Série ficcional procedural é o nome dado a um tipo de seriado televisivo que usa um mesmo formato de episódio. Onde a composição do universo narrativo em que se desenvolve a história possui uma estrutura mais ou menos fixa, girando em torno dos mesmos personagens centrais e situações possíveis, seguindo um processo complexo de repetição e renovação. Assim, em cada episódio ocorre um acontecimento novo em torno de eventos condizentes a seu universo dramático - um crime novo a ser investigado; um assassinato; uma doença nova dificil de ser curada, entre outos, as variedades de procedurais são inumeras. Em termos de estrutura dramática, esse formato é estruturado em espisódios e não em capítulos, tal diferença não é apenas um capricho de nomenclatura. Pois no capítulo, acompanha-se o desenrolar progressivo e gradual de tramas que não apresentam estrutura unitária de emissão única, tecendo continuamente situações dramáticas para o acompanhamento periódico. Já no episódio, a narrativa se dá a partir de uma unidade dramática, a trama, que se desenvolve progressivamente tendo em vista a sua própria superação, ou seja, a trama episódica não se repete, ainda que sua forma se replique - É apresentada e resolvida em uma única emissão. No episódio o desfecho significa o resultado do climax da ação dramática que supera a trama, para na emissão seguinte iniciar um novo percurso; No capítulo, o desfecho é o auge de uma situação dramática que não se resolve, deixando em suspensão o desenrolar de uma das tramas desenvolvidas paralelamente. Ou seja, o episódio possui tramas fechadas- que contêm começo, desenvolvimento e resolução ou conclusão em um só episódio. O capítulo expande a trama, amarrando para o futuro as soluções.

Outra característica do formato procedural é a ausência de desenvolvimento dos personagens. Esses, em geral, apresentam pouco ou nenhum desenvolvimento intrasubjetivo, são planos, permanecem os mesmos independentemente das transformações no universo ficcional. Com isso, há uma possibilidade maior de agradar a espectadores momentâneos, que não acompanham a série, permitindo o entendimento e apreciação do episódio. Sendo possível ver o um episódio sem a necessidade de ver todos os anteriores, tornando a série mais facil de ser acompanhada pelo público. Entretanto, essa também é uma das críticas feitas a tal modelo de seriado, pois os personagens são estáveis e superficiais demais. E para tentar resolucionar tal conflito, muitas das séries procedurais mesclam tramas horizontais em seus episódios, com a intensão de trabalhar nuâncias lentamente gradativas nos personagens e de alguma forma fidelizar o espectador.

O formato procedural se encaixa muito bem em programas de temas policial e médico, já que nessas séries muitas vezes há um caso que deve ser resolvido. Em cada episódio, um caso, uma resolução. As outras características próprias do formato procedural também podem ser facilmente identificadas nesses programas. Como por exemplo, em Law and Order: os personagens são planos, o detetive que sacrifica toda sua vida pessoal pelo trabalho e se identifica com os casos de maneira profunda é dessa forma durante todas as temporadas. O perfil é delineado no início e mantido até o último episódio. Características também observadas em programas como CSI, The Mentalist, Bones, Castle, NYPD, Miami Vice entre muitas outras. Muitas vezes, para se aprofundar um pouco mais na construção dos personagens, essas séries apostam numa suave trama horizontal, podendo, inclusive, prender mais os telespectadores.

Uma forte crítica às series procedurais é a sua previsibilidade. O espectador começa a assistir já tendo em mente como ela vai terminar. O que atrai, portanto, é o percurso que será feito: como o médico vai descobrir a cura ou tratamento; como os detetives vão prender o assassino; o quanto e de que forma eles vão se arriscar para fazer isso. Boas soluções e maneiras de apresentar esse caminho a ser percorrido geram séries de vidas longas como ER (15 temporadas), Law and Order (20 temporadas), CSI (15 temporadas). Entretanto a saturação de séries procedurais com temáticas tão parecidas pode acabar resultando em uma repetição de episódios. Como, por exemplo, um episódio em que o detetive ou policial protagonista é incriminado e se descobre que ele na verdade sofreu uma vingança de alguém que ele incomodou em algum caso muito antigo, ou então um episódio em que uma pessoa morre e se descobre que já havia acontecido outra tentativa anteriormente de assassinato, mas que elas não têm relação. Portanto, em um formato que pode dar muito certo no mercado, deve-se tomar cuidado de não cair em uma saída fácil e tentar sempre apresentar novos casos e soluções.

O formato de série procedural veio evoluindo conforme o passar dos anos. Ainda que, em geral, tenha-se mantido como um grande mistério ou problema a ser solucionado - uma herança dos romances procedurais - para continuar atraindo e fidelizando seu público, criaram-se novas formas de se "desproceduralizar" uma série sem que ela deixe de pertencer ao formato mas que também não se torne mais do mesmo. O mais comum desses "novos procedurais" é a mescla com o formato de programa seriado ou programa de trama horizontal.

Os programas de trama horizontal são, brevemente, aqueles que possuem uma história narrativa durante todo o arco de temporada e que a perca de um ou outro episódio pode causar desconforto e falta de entendimento do contexto geral da série. Isso não acontece num procedural. Outra diferença bem visível entre ambos os formatos, é dada logo no inicio durante os Cold Opens. Estes são as primeiras cenas que passam antes dos créditos iniciais. Num procedural, em geral, funciona como uma pequena introdução aleatória do episódio que geralmente apresenta ou cita, ao final do cold open, o problema do episódio. Na trama horizontal, ele se baseia inicialmente numa lembrança das principais sequências dos episódios e/ou temporadas anteriores (pra quem assiste séries em inglês, é o famoso "Previosly in..."), e então frequentemente se começa o episódio com uma relação entre as cenas principais do capítulo anterior.

A falta de cliffhangers bem definidos também é uma das principais diferenças. Estes são aqueles pontos de suspenses que nos horizontais te prendem de um episódio ao outro e algumas vezes de uma temporada a outra. Nos procedurais, eles só existem durante a exibição do episódio e geralmente acontecem apenas para "te segurar" durante um intervalo e outro. É o momento em que se descobre que o paciente reagiu mal ao novo medicamento, ou quando se descobre uma nova pista para um crime. Alguns procedurais um pouco mais ousados, utilizam-se desse artifício de uma temporada a outra, mas de uma forma natural que não seja necessário entender o que aconteceu exatamente para que se acompanhe a nova temporada, como em House da 5ª a 6ª temporada.

Em uma série procedural, tende-se a utilizar os mesmos personagens fixos, e com pouca profundidade. Não se reutilizam personagens recorrentes, e cria-se o hábito de se ter muitos "atores convidados", alguns inclusive famosos da época como o caso do Justin Bieber na 11ª temporada do CSI, pra personagens que são apenas corriqueiros e que podem morrer sem culpa de "perder audiência" ao fim do episódio. Quando um procedural começa a dar espaço para algumas tramas horizontais secundárias (isso quando elas se tornam mais interessantes do que a resolução do problema em si), é quando se tem um pequeno desenvolvimento da participação desses personagens

secundários, ainda que sem profundidade, e nunca deixando de se ter o mistério/problema a ser resolvido.

Num procedural horizontal ou horizontal procedural, essas estruturas tendem a se misturar. Transformam-se ainda numa série procedural ficcional com conteúdos horizontais, mas que são tão longas (22 episódios em geral) que se tornam difíceis de serem uma série totalmente de trama horizontal como True Blood, Game of Thrones ou Witches of East End. A maioria das séries de broadcast hoje, são séries procedurais com tramas horizontais, que misturam artifícios dos dois formatos e criam um formato que te prende a ver todos os episódios, mas que não te exclui caso você tenha perdido um ou outro, como é o caso de Arrow e Grimm.


Bibliografia - Sites consultados:



http://mobile.reuters.com/article/idUSTRE5160IN20090207?irpc=932 http://www.nytimes.com/2008/11/17/arts/television/17ncis.html?_r=2& http://www.seriemaniacos.tv/criminal-minds-um-procedural-nao-convencional/ http://www.cinemablend.com/m/television/Reinvention-Crime-Procedural-5-Shows-Doing-It-Right-60551.html 

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