Seminário XII: Horror Host



Universidade Federal Fluminense
Instituto de Artes e Comunicação Social
Cinema e Audiovisual
Professor: Felipe Muanis
Alunos: Aline Beatriz, Caio Neves, Mariana Moron





O formato de programa Horror Host (em português, “apresentador de horror”) é amplamente conhecido, mas tipicamente americano e regionalista. Teve início nos anos 50 e existe até hoje, apesar da menor produção e de não possuir o mesmo espaço. Naturalmente, ao longo dos anos, esse formato sofreu mudanças, entretanto algumas características permeiam todo o seu panorama. Surgiu em um contexto propício, caracterizado pela histeria instaurada no pós-guerra, tendo como fator-chave o lançamento da bomba atômica, o que levou a um certo interesse mórbido por produções de terror - segmento que não era atendido por Hollywood. Além disso, é notável sobre esse formato a influência do rádio, onde a figura do host era comum.

O programa se baseava muito na comunicação direta e humorosa com o espectador, onde o host introduzia e interferia no filme e até mesmo nos comerciais. Esse host era uma celebridade local (homem do tempo, apresentador infantil, pessoas que já trabalhavam na própria emissora, em geral) que incorporava, de forma bastante excêntrica, um personagem típico de filmes de terror, como cientistas maluco, vampiro, etc. Esses programas eram veiculados em redes independentes de TV ou em pequenas filiais regionais, explicando seu caráter de baixo orçamento, em geral a partir das 23h30 nas sextas e sábados - mais tarde, em função da concorrência (especialmente de talk shows), popularizou-se também o horário do sábado ao meio dia.

A própria estética do programa mimetizava a estética dos filmes que apresentava, sempre filmes B e em sua grande maioria produções de terror. Em função da grande demanda por filmes, afinal eram longas-metragens e não havia reprises, exceções foram abertas para outros gêneros, como ficção científica e filmes de capa-e-espada, por exemplo. Além disso, as pequenas redes de TV não tinham orçamento para comprar grandes produções e filmes caros no geral, consequentemente exibindo estes ditos filmes trash. Mas o cerne do programa não eram necessariamente as atrações internas, e sim o apresentador em si - que acabava representando uma companhia para o espectador, na medida em que interagia calorosamente com ele.

A primeira host foi Vampira, cujo programa estreou em 1954 pela KABC TV, aos sábados à noite. Com ela se estabeleceu um padrão de programa, pois carregava os elementos principais que se perpetuariam como base deste formato. Ela constrói um personagem excêntrico que remete aos próprios filmes que apresenta, sendo que seu cenário busca construir uma atmosfera macabra através de elementos góticos (fumaça, candelabros, entre outros clichês de terror). Em um de seus segmentos ela interage com seu animal de estimação, uma aranha, estabelecendo a ideia de ter uma criatura acessório, que depois veio a se apresentar na forma de monstros, corvos e mesmo pessoas, em quase todos os programas que a seguiram. Ela também possui catch phrases (“Bad dreams, Darling” ao final de todo programa) e algumas ações que marcavam seu caráter ameaçador e excêntrico, como fazer venenos ou desejar que as pessoas tivessem uma péssima semana. É importante notar também que ela tinha um certo sex appeal e capacidade de intimidação.

Ainda nos anos 50, a Universal libera um pacote de filmes clássicos de terror do seu acervo para a televisão - contendo filmes como Drácula, Frankenstein, O Homem Invisível. Essas pequenas emissoras se apropriam desse conjunto e adicionam a figura do apresentador, como artifício para atrair público. Tal pacote ficou conhecido como “SHOCK!”, formato que se espalhou por 52 estações - a maioria com seus próprios hosts, fato que reforça a regionalização desse tipo de programa. Durante esse processo, a sátira aos filmes ficou mais evidente, popularizando e consagrando o formato. Ao final dos anos 70, estima-se que cerca de duzentos apresentadores já haviam agraciado a TV com sua presença. Os shows, sustentados principalmente por um humor seco, cáustico e às vezes metalingüístico, tornaram-se uma tradição televisiva que continuou através dos anos 80 até entrar em decadência devido a TV a cabo e por satélite.

Nos anos 80, a figura da mulher toma conta do cenário, especialmente a mulher vamp, sexualmente agressiva, numa dinâmica que explorava a sexualidade feminina para conquistar a audiência. O exemplo mais clássico disso é a Elvira, the Mistress of the Dark, cujo programa, Movie Macabre, era veiculado em Los Angeles pela KABC-TV aos sábados. Cassandra Peterson, a atriz que interpreta a personagem, usava um vestido preto revelando sua forma voluptuosa e constantemente fazia brincadeiras sexuais com seus espectadores. Ao apresentar o filme, Elvira interagia diretamente não só com o espectador, mas também com o filme apresentado, através da montagem e dos comerciais. Seu programa possuía uma veia cômica mais proeminente, fazendo várias piadas não só dos próprios filmes, mas também consigo mesma. Em alguns episódios, durante esse momento de interferência, Elvira recebia ligações misteriosas de um personagem chamado The Breather (sua figura acessória, que remetia à aranha da Vampira) que contava piadas estranhas. Ao final de cada programa, ela desejava sonhos desagradáveis a todos os espectadores, muito similar à maneira da pioneira Vampira. Ela é a host mais famosa, tendo conquistando uma fiel base de seguidores, permitindo que participasse de filmes e que se mantivesse na mídia até os dias de hoje.

A partir dos anos 90 em diante, esse formato entrou em processo de decadência contínua, apesar de alguns programas nos Estados Unidos ainda representarem esse estilo. Os programas ainda carregam esse espírito trash dos seus antecessores, embora com uma abordagem de sátira mais consciente e auto-depreciativa, sendo que esta incide sobre o programa em si e não apenas nos filmes. Um exemplo claro deste fenômeno é representado pela série Penny Dreadful (exibida pela KMBC-TV), que toma o Horror Host como um formato cristalizado num passado porém passível de imitação, satirizando-o com o claro conhecimento de não conseguir manter sua aura clássica.

No Brasil o exemplo mais próximo dessa figura de apresentador seria o Zé do Caixão, que adaptou o formato de Horror Host para o cenário brasileiro, com sua caracterização nefasta e praguejamentos dirigidos ao público. Seu programa, “O Estranho Mundo de Zé do Caixão”, entretanto, consistia apenas de um show de variedades, com entrevistas, reportagens e discussões sobre assuntos paranormais, não introduzindo filmes.

Embora os tempos de glória do formato tenham passado, sua influência nos dias de hoje é inegavelmente presente, através da incorporação em diversas plataformas como jogos (Catherine), história em quadrinhos (House of Mystery, com participação de Elvira) e filmes - deixando como legado Horror Hosts contemporâneos, webshows, personagens marcantes e mesmo shows imensamente populares com o grande público, como Família Addams, por exemplo, cuja protagonista feminina, Morticia, tem como influência evidente a figura da Vampira.


Vídeos usados na apresentação:

The Vampira Show: http://www.youtube.com/watch?v=gs0ehPgyD3U

Penny Dreadful: http://www.youtube.com/watch?v=KTfy5s6YsoQ

Jogo: http://www.youtube.com/watch?v=zke7gerUcck

Elvira: http://www.youtube.com/watch?v=0MILtDGFKZo

Zé Do Caixão: http://www.youtube.com/watch?v=eJfMEc2p5G0


Bibliografia:

Livro: Television Horror Movies Host, Elena M. Watson.

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