Criadores do ‘Big Brother’ buscam ‘um mundo melhor’ enquanto apostam na TV e no futuro dos realities

Postado originalmente em:  http://oglobo.globo.com/cultura/revista-da-tv/criadores-do-big-brother-buscam-um-mundo-melhor-enquanto-apostam-na-tv-no-futuro-dos-realities-16068151#ixzz3ZS5mHx5U 

Quarta, 06 de maio de 2015

Por GRAÇA MAGALHÃES-RUETHER





    BERLIM — A nova utopia fica em Zeesen, aldeia de 5 mil habitantes, uma hora ao sul de Berlim, onde 15 pioneiros enfrentam, durante um ano, experiências que seus antepassados viveram. Sem banheiros, móveis ou outras facilidades da vida moderna, eles precisam criar com as próprias mãos tudo de que necessitam, tendo como ponto de partida duas vacas, um estábulo e dois hectares de terreno para plantar. A “luta” pela sobrevivência dos pioneiros, que é acompanhada por 105 câmeras de TV, é mostrada de segunda a sexta-feira na Alemanha no novo reality show de John de Mol, o holandês que inventou o “Big Brother” e o vendeu para 70 países.
    Em “Newtopia”, a proposta é bem diferente da de “Big Brother”, “The voice” e outros realities que De Mol criou. Segundo ele, no novo programa predomina a utopia da busca por um mundo melhor. Ou por mais audiência. Nos últimos dias, o assunto correu redes sociais e foi parar nos jornais alemães depois que surgiu na internet a gravação de uma conversa em que a produtora Jacqueline Bossdorf exigia mais ação dos 15 pioneiros.
    De acordo com John de Mol, “Newtopia” é o programa mais “reality” de todos os que criou até agora. Não há roteiro. Tudo o que é feito é decidido pelos próprios participantes. Na Holanda, onde o programa estreou no ano passado com o título “Utopia”, o sucesso foi tão grande que metade dos candidatos resolveu ficar no campo continuando a experiência “por um mundo melhor e mais ecológico”. Nos Estados Unidos, porém, a ideia não causou comoção. E o programa, também batizado de “Utopia”, foi cancelado meses após sua estreia. Até agora, pelo menos dez países adquiriram os direitos do reality, mas não se sabe ainda se o Brasil está entre eles.
    A proposta pode até ser viver como os pioneiros, mas nem tudo é privação. No celeiro onde os candidatos têm que construir tudo — até as camas em que vão dormir — não há calefação, mas a cidade utópica tem ligação de água e gás. Além disso, os participantes recebem um celular carregado com € 25 para ligações extremamente necessárias com o mundo de fora, como chamar um médico no caso de uma emergência ou dar um ou outro telefonema para um parente próximo.
    — Não é como um “Big Brother”. Não é inteiramente isolado do mundo de fora. A área é grande, as pessoas podem sair para fazer alguma coisa e até ver seus parentes determinadas vezes durante o ano de programa — afirma De Mol.
Para cuidar melhor da região verde que antigamente servia de base militar das tropas soviéticas estacionadas na Alemanha Oriental, um agricultor de verdade, Heiko Terno, dá lições básicas da vida no campo, incluindo como ordenhar uma vaca, por exemplo. Terno é também, segundo a emissora Sat1, que apresenta o programa na Alemanha, o único elo de ligação entre os pioneiros e o vizinho município de Königs Wusterhausen, de 35 mil habitantes.
    “Nos primeiros dois meses, os candidatos, que chamamos de pioneiros, lutam para sobreviver. Como conseguir alimentos, água? E um banheiro? Só após resolver as primeiras necessidades de vida surgem as preocupações de longo prazo, como ganhar dinheiro. E, depois, o que fazer com o dinheiro? Uns dizem que bastam € 100 por semana, o suficiente para comer e beber. Mas outros dizem não: os € 100 vamos investir, para ganharmos mais no futuro, € 200 por semana. Tudo simplesmente como no mundo real”, explicou o holandês em entrevista à rádio “Deutschlandfunk”.

TEMPO INTEGRAL AO CRIATIVO
    Na Alemanha, os 15 participantes de “Newtopia” vivem em regime de democracia de base, em que todas as decisões são tomadas coletivamente. Na Holanda, contudo, a cada 30 dias é eleito o “capitão do mês”, que, como uma espécie de chefe de governo, toma sozinho as decisões para o grupo.
    John e sua irmã Linda de Mol ficaram bilionários criando programas de TV como o “Big Brother”, amado por uns e odiado por outros tantos, que o acusam de ser “televisão sem conteúdo”. Na produtora Talpa TV, que acabam de vender para a empresa inglesa ITV, inventaram o “The voice”, hoje presente em mais de cem países, e “Utopia”, entre outros. A Endemol, que produz o “Big Brother” e que John De Mol também fundou, é hoje a segunda maior produtora de televisão do mundo, uma multinacional com escritórios em cada país onde o “Big Brother” é apresentado.
    — O bom da televisão é que se trata de um meio de comunicação flexível, sendo capaz de trabalhar até com o que é atualmente a sua maior concorrência, a internet — diz De Mol.
No seu novo programa, aliás, ele experimenta a simbiose entre TV e internet. Há subcapítulos que só podem ser vistos on-line.
    — Eu estou muito otimista no que diz respeito ao futuro da televisão. Trata-se de um modelo que é ainda muito interessante do ponto de vista econômico. Para os anunciantes, é a maneira mais barata de atingir um público de milhões de pessoas. E é também um meio de ligação social — afirma o holandês.
    No futuro, ele e a irmã pretendem trabalhar apenas para inventar programas. Após venderem a Talpa TV por cerca de € 1,1 bilhão, eles vão dedicar seu tempo integral ao trabalho criativo.

Comentários

  1. O formato parece extremamente diferente dos realitys criados pelos irmãos de Mol. Aponta para novos objetivos: o comportamento humano ou "estudo antropológico" mantém-se, porém, não mais há um vencedor. Isso foi o que mais me chamou atenção ao ler sobre o programa! Foge completamente do propósito de Big Brothers ou The Voices da vida: o príncipio de enaltecer a individualidade ou a competitividade (onde há UM vencedor, O melhor, O CAMPEÃO) não parece fazer parte da pauta do programa, do pouco que li sobre. O estudo da forma de organização primitiva/coletiva dos homens é o foco, e diferentes resultados já são evidentes: decisão coletiva, necessidade ou não de lideranças, etc.

    Difícil acreditar que não haja qualquer manipulação no que diz respeito à essa organização dos participantes durante a experiência, mas acreditemos na veracidade da informação dada!

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