ARTIGO: Netflix e a transformação definitiva da TV


Trecho retirado da terceira parte de um artigo de quatro módulos. O Futuro da TV, por Pyr Marcondes, publicado integralmente em: http://www.proxxima.com.br/home/proxxima/blog-do-pyr/2016/10/25/o-futuro-da-tv-3.html
Netflix nasceu como um serviço de distribuição de conteúdo via streaming, ou seja, OTT, ou seja, Over The Top, ou seja, via web e não pelo cabo, nem pelo sinal de satélite tradicional.
E assim, quebrou de cara a dinâmica de distribuição da indústria televisiva em todo o mundo (no Brasil também, não se engane caro leitor que aqui é uma ilha isolada por conta do BV e da estratificação televisiva que temos, porque não é). Quebrou também a indústria do DVD e a Blockbuster, lembram-se disso?
Mas não se contentando com esse chutão na porta, Netflix saiu quebrando outras lógicas e outros modelos, porque começou a produzir seus próprios conteúdos originais e também pagar alto por conteúdos produzidos pelos estúdios de Hollywood, antes nas mãos das TVs Pagas tradicionais como seu único canal de distribuição.
Os originais de Netflix (que todos conhecemos, como House of Cards, Narcos, Orange is The News Black, etc.), além do sucesso de público e crítica (ganharam dezenas e dezenas de Emmys este ano, o prêmio que reconhece a excelência dessa indústria), foram negócios extremamente bem sucedidos e lucrativos. Custam muito caro para serem produzidos, mas rendem muito mais e deixam em casa um caixa azulzinho de dar gosto aos seus produtores e de deixar vermelhos de inveja e muita raiva os estúdios tradicionais.
Este ano, Netflix investiu US$ 6 bilhões na produção de originais (serão mais de 30 novos produtos, não mais apenas séries, mas também talk shows, shows de humor, etc., isso só em 2016) e na compra de produções de outros estúdios, a ponto da publicação especializada em cinema e TV, The Hollywood Report (THR), ter feito recentemente uma matéria admitindo a hipótese de que Netflix possa vir a ser, na verdade, o grande monopólio da indústria em algum tempo (não fui eu quem disse, tá?). No artigo, entrevistados da THR chegam a comparar Netflix para o mundo do entretenimento com o Google no âmbito da busca web e Amazon no campo do varejo online.
Netflix teve um lucro líquido de quase US$ 7 bilhões em 2015. Tem hoje 83 milhões de assinantes em 190 países, com conteúdos distribuídos em 20 idiomas diferentes. Está agora entrando com o mesmo entusiasmo e caixa na produção de originais para o cinema, tendo Brad Pitt e Will Smith como astros de suas duas grandes obras para a grande tela em 2017. Jogo pesado.
É disso que estamos falando.
Na indústria de entretenimento de Hollywood todos torcem para que Netlix quebre. Que Amazon consiga ser seu grande oponente, reduzindo seu ímpeto de crescimento. Que os próprios estúdios consigam de alguma forma contrabalançar essa avassaladora ocupação de mercado com soluções inovadoras. Pode até ser que tudo isso aconteça, mas algo é já totalmente irreversível: Netflix mudou a indústria da TV (e deve mudar também a do cinema) para sempre. O gosto de sangue foi provado. Os próprios players da cadeia tradicional admitem que o que a companhia fez em pouco mais do que 7 anos de vida é transformador e é definitivo.
Informações dão conta de que Disney pagou US$ 1 bilhão para ter um terço de propriedade da BAMTech, que detém os direitos de transmissão dos jogos da liga nacional de basquete nos EUA para o mundo digital. Veja, mundo digital.
Como parte do negócio Disney estaria planejando lançar seu próprio serviço de streaming (olha os estúdios reagindo aí, gente!) para a programação esportiva de sua propriedade ESPN. Some-se a isso o fato de ter comprado também um pedaço (o grupo WPP comprou outro) da Vice Media ano passado, mostrando claramente que a companhia está mais do que de olho no setor OTT. TV virando internet (como você deve ter lido no artigo anterior desta série).
Mas isso tudo aí é TV? Sim, é TV. Mais que isso, é o futuro da TV.

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