por Patrícia Kogut
[publicada originalmente na coluna Controle Remoto do Jornal O Globo, 25/05/2011, Segundo Caderno]
Com cada vez mais frequência - nos e-mails de leitores ou comentários de internautas no blog - alguém elogia uma atração da TV paga, só para, em seguida, dizer: "Não entendo como este formato não está na TV aberta". Foi, por exemplo, o que comentou a leitora Angel sobre a crítica de Chegadas e Partidas, programa de Astrid Fontenelle no GNT.
Há alguns anos, quando a televisão por assinatura e as emissoras abertas eram muito diferenciadas, esta questão nem se colocaria. A frase reducionista "não dá para assistir a TV aberta" era comum. A "Qualidade" supostamente pertencia somente só ao cabo, que nasceu voltado para os nichos, nunca apostava nas massas. Hoje isso mudou. A TV paga continua tendo seus alvos restritos. Porém, com o aumento do poder econômico das classes C e D, aos poucos, em busca de nova freguesia, foi pegando um caminho generalista. Este movimento arrastou os canais étnicos - paroxismo da ideia da segmentação - para lugares remotos do line up. TV5, Deustche Welle, NHK e afins estão acima do número 140 da NET. No mais, tudo ficou junto e misturado no sentido editorial da coisa.
Popular, Chegadas e Partidas poderia, como imaginou a leitora, estar numa emissora aberta. Mas outras atrações do GNT, voltadas para o "público mulherzinha", não. Em contrapartida, praticamente tudo da TV aberta caberia no cabo hoje. O Viva é a melhor prova disso: caiu nas graças das plateias com seu conteúdo quase 100% produzido pela TV Globo. Quer algo mais voltado para as multidões que o Cassino do Chacrinha ou o Esquenta, só para citar dois dos seus sucessos?
Importante dizer: o Brasil é um país tão completo que bastou a TV paga triplicar seu público em poucos anos (de 3 milhões para 10 milhões), para ganhar ares de TV aberta. Dez milhões de domicílios são um quinto do total do país, mas já o suficiente para mudar o negócio. Imagina quando todos poderem interromper a programação, alugar filmes (a qualquer hora, com o serviço de video on demand) e muito mais. Aí a discussão se deslocará mesmo para além do quilate dos conteúdos. Será que uma atração, vista de outro modo (usando os recursos do cabo), ainda poderá ser considerada a mesma? Ou ainda, trocando em miúdos: a forma como se vê um programa é capaz de transformá-lo? Veremos.
[publicada originalmente na coluna Controle Remoto do Jornal O Globo, 25/05/2011, Segundo Caderno]
Com cada vez mais frequência - nos e-mails de leitores ou comentários de internautas no blog - alguém elogia uma atração da TV paga, só para, em seguida, dizer: "Não entendo como este formato não está na TV aberta". Foi, por exemplo, o que comentou a leitora Angel sobre a crítica de Chegadas e Partidas, programa de Astrid Fontenelle no GNT.
Há alguns anos, quando a televisão por assinatura e as emissoras abertas eram muito diferenciadas, esta questão nem se colocaria. A frase reducionista "não dá para assistir a TV aberta" era comum. A "Qualidade" supostamente pertencia somente só ao cabo, que nasceu voltado para os nichos, nunca apostava nas massas. Hoje isso mudou. A TV paga continua tendo seus alvos restritos. Porém, com o aumento do poder econômico das classes C e D, aos poucos, em busca de nova freguesia, foi pegando um caminho generalista. Este movimento arrastou os canais étnicos - paroxismo da ideia da segmentação - para lugares remotos do line up. TV5, Deustche Welle, NHK e afins estão acima do número 140 da NET. No mais, tudo ficou junto e misturado no sentido editorial da coisa.
Popular, Chegadas e Partidas poderia, como imaginou a leitora, estar numa emissora aberta. Mas outras atrações do GNT, voltadas para o "público mulherzinha", não. Em contrapartida, praticamente tudo da TV aberta caberia no cabo hoje. O Viva é a melhor prova disso: caiu nas graças das plateias com seu conteúdo quase 100% produzido pela TV Globo. Quer algo mais voltado para as multidões que o Cassino do Chacrinha ou o Esquenta, só para citar dois dos seus sucessos?
Importante dizer: o Brasil é um país tão completo que bastou a TV paga triplicar seu público em poucos anos (de 3 milhões para 10 milhões), para ganhar ares de TV aberta. Dez milhões de domicílios são um quinto do total do país, mas já o suficiente para mudar o negócio. Imagina quando todos poderem interromper a programação, alugar filmes (a qualquer hora, com o serviço de video on demand) e muito mais. Aí a discussão se deslocará mesmo para além do quilate dos conteúdos. Será que uma atração, vista de outro modo (usando os recursos do cabo), ainda poderá ser considerada a mesma? Ou ainda, trocando em miúdos: a forma como se vê um programa é capaz de transformá-lo? Veremos.
Nem vejo a TV segmentada se tornando TV generalista, até mesmo porque ela não o é, como também não acho que o Viva seja um exemplo de canal generalista. Ele pode até ter uma programação que vem da TV generalista, mas ela é totalmente segmentada também: seu foco é a programação antiga. Ou seja, quem vai ao Viva vai para ver uma programação retrô, seja por curiosidade de quem nunca viveu ou para relembrar o passado. O que motiva esse espectador é completamente diferente do que o leva a ver um canal generalista.
ResponderExcluirE definitivamente, a forma como se vê um programa é capaz sim de transformá-lo. Diferentes modalidades de suportes e recepção interferem na leitura do conteúdo. Acho que quem tem o hábito de ver VOD pode atestar que é uma experiência distinta. Televisão é grade, e essa, no meu entender, ainda que com novos modelos de negócios e formatos, não deve se extinguir. Se estamos conjecturando futurologias, essa seria minha aposta.