‘Escrevi para continuar vivendo’, afirma Gloria Perez sobre a volta ao trabalho após a morte da filha



À frente de ‘Dupla identidade’, série que estreia este ano, autora fala da inclusão de temas inovadores em suas obras e diz que merchandising social deve ser algo natural na trama

Publicado originalmente no site: http://oglobo.globo.com/cultura/revista-da-tv

Domingo, 27 de abril de 2014, 08h00

Natalia Castro





Autora de tramas como “Barriga de aluguel” (1990), “Hilda Furacão” (1998) e “Salve Jorge” (2012), Gloria agora se dedica à série “Dupla identidade”, que deve estrear no segundo semestre na Globo. Em 13 episódios, o programa dirigido por Mauro Mendonça Filho é sobre um serial killer (Bruno Gagliasso) e tem Luana Piovani como uma policial forense. Nesta conversa, que integra a série de entrevistas com autores de novelas iniciada em janeiro pela Revista da TV, Gloria relembra momentos da carreira, fala sobre o merchandising social de suas tramas e de como Janete Clair (1925-1983) influenciou em seu modo de escrever.

Por que fazer uma série sobre serial killers?

Gosto muito de séries policiais, e estamos tendo uma abertura na Globo para atrações do gênero. Esse policial mais leve, sem tiroteio, é algo que ainda não foi explorado. Então tive vontade de fazer até pela curiosidade que a gente tem de entender essas cabeças, que são humanas, mas tão diferentes do que a gente considera humano.null

Como foi sua pesquisa?

A grande inspiração foi o Ted Bundy (1946-1989), serial killer americano. Fiz uma pesquisa em cima dele e outra em cima da perícia, porque é algo que encanta as pessoas e é uma curiosidade que temos sobre essas máquinas fantásticas que pensamos que são fantásticas, mas, na verdade, estão ali, nos laboratórios, para serem usadas. Falamos com o Leandro Daiello, o diretor-geral da Policia Federal de Brasília, e com a Rosângela Monteira, perita do caso Isabella Nardoni (menina de 6 anos arremessada de um prédio em 2008).

“Dupla identidade" terá um pé na fantasia?

Sim. E as séries americanas brincam com isso o tempo todo. Sempre digo que meu sonho de consumo é o computador do “Lei e ordem”; quando eles têm um suspeito que não tem nem ficha na polícia, basta apertar um botão para saber o primeiro leite que ele tomou. E pode, porque a ficção não é um documentário, e óbvio que há liberdade. O que não é fantasia, de jeito nenhum, é a cabeça do serial killer. Você vê em “Dexter”, por exemplo, adoro ele com aquela seringa mágica, que aplica nas pessoas na rua. Se você começa a fazer da dramaturgia um jogo de sete erros, não aproveita e empobrece a história.

Livia Marini (a vilã de Cláudia Raia, em “Salve Jorge") foi inspirada no “Dexter”?

Sou fã dele como falei, mas quando fiz a pesquisa sobre os traficados, descobri que é o tipo de coisa que fazem para matar as pessoas. Isso é fácil de se entender, porque os traficantes querem se livrar de um estrangeiro que incomoda, e com a seringa, a hipótese é de overdose. Para a história da Morena (Nanda Costa), eu me inspirei no drama de uma pessoa real, que viveu tudo isso, e a amiga morreu dessa forma.

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