Universidade Federal Fluminense
Instituto de Artes e Comunicação Social
Cinema e Audiovisual
Professor: Felipe Muanis
Alunos: Fabrício Basílio e Lucas Scalioni
A argumentação teórica proposta para esse trabalho tem como ponto de partida os programas informativos contemporâneos destinados a terceira idade. A partir desse ponto de ignição abrimos dois parênteses. Primeiro não calculamos nossa amostragem de programas, que será feita a seguir, em cima somente da noção de publico alvo, o que aumentaria substancialmente nosso escopo de análise. Mas sim, em programas que se declaram abertamente voltados para os idosos, tanto no que concerne a produção de conteúdo e aqui cabe lembrar que cada um dos programas pode optar por formas distintas na lida com o envelhecimento, quanto a delimitação de um corte por faixa etária, muitas vezes de fronteiras não tão demarcadas, no que se entende por público alvo.
Já o segundo parênteses tem como enfoque o termo informativo, e aqui lançamos mão dos estudos de Elizabeth Bastos Duarte no artigo "Televisão: Entre Gêneros/formatos e produtos" (2003).
Para a autora “(...) dizer de um programa que ele é informativo ou de entretenimento é praticamente nada informar sobre ele. Designá-lo indistintamente como entrevista, reportagem ou documentário é, muitas vezes, lançar mão de critérios diferentes para referir um mesmo tipo de produto.” (DUARTE, 2003, p.1) Como a autora aprofunda:
“Como já se referiu, ao se examinar a grade de programação das emissoras de televisão, constata-se que grande parte dos programas são classificados como informativos: - documentários, reportagens, telejornais, entrevistas, talk-shows, programas de auditório, magazines, e, hoje, reality-shows - remetendo a essa vertente factual ou de “verdade” e “realidade” que vem ganhando cada vez mais espaço na constituição da programação televisiva.” (DUARTE, 2003, p.3)
Ou seja, trataremos a seguir de programas generalizados como informativos, que mesmo se diferenciando por opções de formato, como programas de auditório e revistas eletrônicas possuem como mote principal a interagir com a terceira idade.
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O primeiro programa analisado é o Dedo de Prosa, criado em 1998 pela TV Horizonte, emissora católica de Belo Horizonte. O programa é transmitido ao vivo todos os sábados, das 14 ás 15 e também reprisado na TV Aparecida. Estabelecido na grade da emissora a mais de 14 anos o programa de auditório se notabiliza pela abertura de discussões sobre o envelhecimento, ao mesmo tempo que mescla nos programas, normalmente temáticos, quadros de culinária, artesanato, dicas de saúde e música ao vivo. Além disso, o programa é perpassado por uma numerosa paleta de anunciantes, que normalmente direcionados ao idoso, ocupam boa parte do tempo do programa.
Já o programa Idade em Ação se aproxima de uma revista eletrônica. Veiculado semanalmente na TV Câmara, entre 2006 e 2007 o programa foi produzido numa parceria entre o SESI e a TV PUC São Paulo. Dividido em três blocos o programa de aproximadamente 27 minutos de duração, conta com informações sobre os direitos dos idosos, além de quadros fixos, com destaque para as colunas de leitura e gastronomia e do quadro “Lição de Vida”que encerra cada episódio com o depoimento de um idoso, normalmente de trajetória artística e carreira reconhecida, sobre sua experiência de vida e a lida otimista com o envelhecimento.
O terceiro programa analisado constava na grade da TV Bandeirantes até 2013. Apresentado por Helô Pinheiro e patrocinado pelo plano de saúde Prevent Senior, De Cara Com a Maturidade era exibido semanalmente aos sábados entre 10 e 11 da manhã. Com uma estrutura muito próxima ao dos “programas de culinária” De Cara com a Maturidade fornece dicas para terceira idade, como receitas culinárias, dicas de artesanato e indicações de saúde. Além disso, todo programa traz matérias externas, que se direcionam para a cobertura de eventos, festas e ações voltadas para saúde promovidas pela própria Prevent Senior.
O último programa analisado se mostrou o mais interessante, tanto no que circula suas pretensões temáticas, quanto no que se refere a sua estrutura de formato. É a Vovozinha! traz em sua sinopse um objetivo muito bem delimitado: “tentar descobrir: afinal, quem é essa vovozinha?”
Vencedor do segundo pitching da TV Brasil, o programa que contou com 32 episódio, foi ao ar ás segundas-feiras ás 20h00, entre 2011 e 2012. Com temas sempre bem delimitados que iam desde: A vovozinha que gosta de outra vovozinha; A vovó e as tecnologias até A vovozinha e mídia. O programa voltado para o público feminino, articulava de forma híbrida, uma linguagem documental e jornalística com a inserção de quadros de ficção.
Assim, o programa divido em dois blocos, sempre se inicia com a interpretação de uma cena interligado ao tema do programa. A isso se somam a inclusão de depoimentos de especialistas e mulheres sobre o tema em questão e a inclusão de reportagens jornalísticas, que ambientadas nas ruas, procuravam a opinião de anônimos transeuntes, tudo isso costurado por uma narradora off feminina, que se declarava idosa.
Militante pelos direitos da mulher e sempre tratando o idoso a partir de sua trajetória de vida, É a Vovozinha! se sobressai aos programas anteriormente citados por reivindicar um idoso ativo social e intelectualmente.
Conclusões
Distante da televisão por assinatura e da maioria dos canais de grande audiência da televisão aberta, os programas analisados parecem margear as grades televisivas assim como os idosos são, socialmente, deixados às margens da sociedade. Além disso, os programas analisados possuem um corte de público explicitamente dedicado ao gênero feminino. Assim, Dedo de Prosa tem sua platéia composta basicamente por mulheres idosas, enquanto De Cara com a Maturidade tem estrutura muito similar aos inúmeros programas femininos que tratam a culinária como marco fundamental.
Trazendo essa discussão para a sociedade brasileira hodierna é fundamental notar como as temáticas envolvendo essas produções televisivas, com exceção de É a Vovozinha!, tratam as necessidades de entretenimento dos idosos, normalmente a partir de um viés gerontológico, principalmente no que se refere a funções biológicas e a minimização do envelhecimento.
Por último, é interessante pensar como a questão do cuidado com a saúde está muito mais ligado socialmente a figura feminina, o que pode refletir nos indicadores de expectativa de vida, lembrando que a expectativa de vida da mulher e maior do que a do homem no Brasil, o que pode influenciar na escolha de um público-alvo feminino dentro do grupo de idosos.
Referências:
DUARTE, Elizabeth Bastos Duarte. Televisão: Entre Gêneros/ Formatos e produtos. INTERCOM, 2003. Acessado em 15 de outubro de 2014: http://www.portcom.intercom.org.br/navegacaoDetalhe.php?id=42402
GOMES, Iara de Oliveria. Narrativas Fílmicas na Educação para a Velhice. Dissertação (Mestrado em Educação) ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá, 2012. Acessado em 15 de outubro de 2014: http://www.ppe.uem.br/dissertacoes/2012%20-%20Iara.pdf
Páginas dos programas:
Dedo de Prosa:
http://www.programadedodeprosa.com.br/default.asp
Idade em Ação:
http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/tv/programa/40-IDADE-EM-ACAO.html
De Cara com a Maturidade:
http://www.decaracomamaturidade.com.br/page_oprograma.php
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