Universidade Federal Fluminense
Instituto de Artes e Comunicação Social
Cinema e Audiovisual
Professor: Felipe Muanis
Alunos: Hudson Gabriel, Rafael Marques, Samantha Preciado
BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
Dentro do formato série, uma construção muito particular é o terror/horror. Derivado muitas vezes da literatura, cabe às séries de terror em alguns casos a tarefa de apresentar filmes de baixa aceitação do grande público de televisão. É uma tradição essencialmente norte-americana, embora tenha havido alguns novos produtores internacionais que ganharam força. Ainda assim, é nos EUA que se encontram a maior parte delas e, obviamente, será nosso locus principal de pesquisa.
A primeira série de televisão de terror foi The Vampira Show. A personagem era inspirada em personagens clássicos, como a Bruxa Má da Branca de Neve, e sua caracterização nos cartoons de Charles Addams, mais tarde adaptados para a TV sob o título de A Família Addams. Apresentava principalmente filmes de baixo orçamento de suspense, já que poucos filmes de terror haviam sido lançado para transmissão de televisão. Apesar da sua curta duração, 1954-1955, pode-se dizer que ele definiu o formato padrão para a série de terror.
The Twilight Zone expandiu o repertório do gênero para incluir alienígenas, viagens no tempo, realidades alternativas, e praticamente qualquer outra coisa um escritor pode ser capaz de sonhar. Seguiu a tradição de programas de rádio mais antigos, como X Minus One, e foi transmitida primeiramente em 1959. Mais tarde, em 1985 e 2002 foram feitas novas temporadas, com outras histórias. A série partiu da compra de um roteiro de Alfred Hitchcock pelo canal de televisão americano CBS em 1958, chamado The Time Element. A série, na verdade, introduzia a viagem no tempo como fator decisivo, o que a dava mais roupagem de ficção científica. A ficção, neste caso, deve ser muito bem colocada no contexto: funcionava como alegoria para não se traduzir diretamente críticas socias e políticas, não permitidas pelas emissoras de TV e pelos patrocinadores na época, e então os redatores dela se valiam para expor diversos assuntos. A importância deste fato para a história das séries será mais tarde explicada.
A tradição foi mantida ao longo dos anos 1960 e 1970. Pode-se ressaltar, como já indicado acima, a existência de A Família Addams. Ainda que haja certa comicidade, a premissa da série era a existência de hábitos mórbidos e incomuns, bem como habilidades sobrenaturais, que entravam em choque com a cultura dos vizinhos. O humor daí derivado é o grande centro da questão das séries de terror, ainda que A Familia Addams não seja propriamente uma: a existência de sobrenatural e fatos desconhecidos e ininteligíveis.
Neste mesmo contexto, destacam-se também Sombras da Noite, de 1966. As duas primeiras temporadas foram filmadas em 35 mm e em preto e branco. O show criado por Dan Curtis era transmitido de dia inicialmente, e sem nenhuma referência a sobrenatural. Os fantasmas foram introduzidos seis meses após o inicio da série, que depois contou com lobisomens, vampiros e zumbis. A grande virada na história foi a aparição do vampiro Barnabas Collins, que na história fora preso pela feiticeira Angelique. Recentemente fora adaptada para o cinema, estrelado por Jonny Depp no papel de Barnabas.
Night Gallery (1969-1973), ou Galeria do Terror, foi um dos primeiros exemplos desse formato, foi trazido à vida pelo criador de The Twilight Zone, Rod Serling. A idéia original de Serling era de simplesmente atualizar a outra série anterior, na qual ele fez muito sucesso, mas Night Gallery acabou mais como um sci-fi e contendo muito mais terror que a série passada. Serling, além de ser o anfitrião de cada episódio, também escreveu a maioria dos roteiros mostrados no programa, assim como tinha o mesmo controle sobre a outra série, já citado anteriormente.
Pode-se também dar outros exemplos: Tales from the Darkside (1983-1988); The Hitchhiker (1983-1991; HBO, aproveitando ao máximo as liberdades de cabo premium, serviu a série de nudez) e Tales from the Crypt (1989-1996); crianças norte-americanas de uma certa geração foram traumatizados pelo show da Nickelodeon Are You Afraid of the Dark? (1991-1996) e a adaptação do livro Goosebumps (1995-1998). Este estilo de programa pode ter atingido o seu pico com o Showtime Masters of Horror (2005-2007), que contou com episódios dirigidos por cineastas de horror lendários como John Carpenter, Tobe Hooper e Dario Argento.
Na década de 1990, o sucesso de Arquivo X (1993-2002) era mais ficção científica do que horror. Mais importante, assim como The Twilight Zone introduziu
o paranormal e sobrenatural para o formato de horror, Arquivo X provou que esses elementos podem ser utilizados com sucesso em programas com a continuidade, abrindo assim o caminho para séries como Buffy – A Caça Vampiros (1997-2003), Supernatural (2005-presente), True Blood (2008-2014), Fringe (2008-2013) -e, é claro, The Walking Dead (2010-presente). Estas últimas são algumas das mais famosas séries de terror e suspense, mas não se deve descartar a existência do fenômeno American Horror Story (2011-presente).
No Brasil, não há muita tradição neste tipo de série. Pode-se, apenas, destacar a existência de José Mojica Marins e o seu Zé do Caixão e a série Muito Além do Medo. Zé do Caixão, personagem famoso da cultura trash brasileira, foi, sim, base de uma série de televisão de terror. Isto aconteceu em 1967, na TV Bandeirantes. Essa foi a primeira série do personagem na TV e deu bons índices de audiência ao canal recém inaugurado. Marins, utilizava alunos de sua escola de interpretação nos episódios, sempre assustadores, dessa série, que tinha episódios com 30 minutos de duração, apresentados às sextas-feiras. Alguns roteiros foram mais tarde adaptados para quadrinhos por Lucchetti. Entretanto, as fitas foram reaproveitadas e não há registro conhecido desta série. Em relação a Muito Além do Medo, considerada por muitos a primeira série de terror genuinamente brasileira, pode-se dizer que bebe na fonte dos mais conhecidos programas e filmes americanos do gênero. A série brasileira, produção da Medialand, roteiro de Beto Ribeiro e direção, de Carla Albuquerque, estreou 6 de fevereiro no MGM e investe em terror e tensão psicológica. São quatro episódios de uma hora acompanhando a aventura de um casal num lugar mal-assombrada.
ESTRUTURA, ADAPTAÇÕES, REFERÊNCIAS E TERROR/HORROR
Há quem diga que sempre haverá alguma literatura por trás de uma boa série de terror. Não que isto seja verdade, mas deve-se ressaltar que ultimamente isto tem sido praticamente uma regra. Penny Dreadful, por exemplo, conta a história de personagens literários famosos que habitam Londres na Era Vitoriana. Outras séries, como True Blood e The Vampire Diaries (que não é necessariamente considerada uma série de terror, mas conta com a ideia do sobrenatural) são inspiradas em obras literárias. Neste sentido, também, pode-se destacar The Following, uma série predominantemente de suspense, que narra a vida de um serial killer fascinado pelas obras do (tenebroso) Edgar Allan Poe. Sendo assim, além de analisar o formato em sim, cabe uma breve contextualização da literatura de terror.
Na realidade, deve-se ressaltar que há diferenças entre terror e horror na literatura, ainda que isto não seja disceminado. Para simplificar a abordagem, consideramos terror e horror como duas cabeças de uma mesma hidra. Partindo deste ponto, pode-se entender horror como um gênero intimamente ligado à fantasia e ficção. O traço mais definitivo (e óbvio) do gênero é que desperte reações psicológicas, físicas e sentimentais nos leitores (no caso, espectadores), levados a partilharem de medo.
De um ponto de vista puramente formal, talvez deva-se dizer que o horror é um gênero bastante “previsível”, uma vez que seu objetivo fundamental é sempre o mesmo: horrorizar o leitor. Contudo, como o horror pode ser produzido, artisticamente, de uma infinidade de maneiras, as características variam muito de época para época, de autor para autor. E isto não muda no cinema ou na televisão. Embora o medo seja universal, suas causas podem variar muito no tempo e no espaço, posto que cada sociedade tem os seus medos próprios. A boa literatura de terror, logicamente, é justamente aquela que identifica esses pavores, trazendo-os de modo realista ou alegórico, para o terreno da ficção. Assim também o será para o audiovisual.
Neste sentido, a estrutura de séries de terror/horror seguem o contexto da literatura. Em suma, a montagem e a trilha sonora têm papel fundamental. Há sempre uma linha de raciocínio criada pela série que tem por objetivo levar o espectador às reações viscerais, como medo, repulsa e afins. Desta maneira, a estrutura dos episódios deste tipo de série sempre remete a pontos críticos do enredo, a imagens fortes e chocantes e a personagens que tragam algum tipo de receio, mesmo que seja uma casa mal-assombrada.
A montagem em American Horror Story, por exemplo, na primeira sequência da série traz todo este clima. Através de ruídos e da música, bem como de alguns clichés, como alguma utilização de planos ponto de vista e portas se fechando sem motivo aparente, faz-se uma crescente até o ápice. Às vezes até um pouco lenta, a série de terror deve atrair o espectador pela crescente criação de expectativa até que se chegue ao clímax: ojeriza, medo. Ainda que muito difiram entre si, espera-se que uma boa série de terror consiga, então, atrair o espectador por sua estória e estrutura, antes que possa causar as reações que deseja. Se assim não for, espera-se, ao menos, que o impacto seja tamanho que possa por si só cuidar das expectativas de quem assiste.
REFERÊNCIAS WEBIBLIOGRÁFICAS
http://en.wikipedia.org/wiki/Horror_host
http://www.mania.com/history-horror-television_article_129603.html
http://en.wikipedia.org/wiki/Horror_film#1890-1920s
http://en.wikipedia.org/wiki/Television_program#Genres
http://en.wikipedia.org/wiki/Category:Horror_fiction_television_series
http://www.imdb.com/search/title?at=0&genres=horror&num_votes=1000,&sort=year&start=1&title_type=tv_series
http://io9.com/5803321/the-ten-most-frightening-tv-horror-series-ever-made
http://www.blastr.com/2013-10-28/16-great-horror-tv-series-you-could-be-watching-right-now-netflix
http://blogs.diariodonordeste.com.br/blogdecinema/memoria/dark-shadows-a-serie-que-deu-origem-a-sombras-da-noite/
http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Twilight_Zone
http://www2.uol.com.br/zedocaixao/producoes/tv/conteudo_alem.htm
http://www.mofolandia.com.br/mofolandia_nova/alem_muito_alem.htm
http://entretenimento.r7.com/blogs/mundo-da-tv/seriado/primeira-serie-de-terror-feita-no-brasil-muito-alem-do-medo-tera-crianca-fantasma-como-em-o-chamado-veja-as-primeiras-fotos-20131001/
http://en.wikipedia.org/wiki/The_Vampira_Show
https://sobreomedo.files.wordpress.com/2012/03/00484-entrevista-revista-
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